Eu nunca fui muito fã do Audi TT. Quando era um “aborrecente”, o visual da primeira geração chamava a minha atenção, mas a tocada nunca me atraiu. Quando veio a segunda geração, a aplicação do motor 2.0 TFSI com o câmbio de dupla embreagem DSG da marca deu um novo ânimo ao TT, mas, ainda assim, a experiência estava longe do que eu chamaria de especial. Você leu a respeito desse modelo aqui. As coisas mudavam um pouco de figura quando falávamos do TT-S, com a tração integral haldex. De fato, o “chão” da variante TT-S era muito superior e dava muita confiança.
Na minha percepção, o Audi TT sempre foi mais um “poser car” do que um legítimo carro esportivo. Será que com a nova e terceira geração do TT alguma coisa mudou?!
Eu sempre enchi a boca para dizer que o Golf GTI MK VII é um dos melhores carros esportivos tração dianteira que eu já dirigi e, secretamente, eu acreditava que o VW seria superior ao TT novo em sua versão de entrada. Dessa vez, acho que eu me enganei!
Como cortesia da equipe do Motorgrid Brasil e da Audi, tive a oportunidade de testar a terceira geração do TT em sua variante mais de “entrada” possível. Que grata surpresa!
MOTOR E CÂMBIO
Sem grandes revoluções, continuamos com o conjunto 2.0 turbo, de injeção direta de combustível, acoplado a um câmbio de dupla embreagem (S-tronic ou DSG, como preferir) de 6 marchas. Agora, se no papel as coisas parecem “mais do mesmo”, na prática a coisa é um pouco diferente.
De todos os carros com esse conjunto, tirando, obviamente, as variantes “S” e “RS”, o TT é o que parece mais forte ali no pedal, inclusive desbancando a puxada do Golf GTI. Talvez seja mérito da relação peso X potência ou, simplesmente, pelo fato de que é bem possível que os números declarados do modelo sejam um pouco pessimistas.
Em tese, a Audi declara que esse TT rende 230 cvs e 37,7 Kgfm. A marca do 0 a 100 Km/h é feita em 5,9 segs. A velocidade máxima é de 250 Km/h. O peso do modelo é de 1335 Kgs.
CHASSI
Aqui é onde encontramos a grande novidade positiva do carro. Mesmo sendo um carro tração dianteira, o TT se comporta com uma neutralidade invejável. Você percebe claramente que o carro é mais rígido que os modelos anteriores e há um senso de conexão com a via jamais visto em um TT.
Dirigindo de maneira mais esportiva, você consegue sentir muito bem os quatro cantos do carro. A cada mudança de direção, o carro obedece exemplarmente.
Esse era um dos pontos mais críticos dos antigos TTs, que sempre foram classicamente “anestesiados” na tocada, a ponto de você não ter a menor sensibilidade se o carro estava tracionando ou simplesmente girando as rodas em falso nas curvas mais fechadas.
A única maneira de perceber isso antigamente era observando a direção que o carro ia. Agora as coisas são previsíveis e você consegue identificar muito bem o que está acontecendo com o modelo.
SUSPENSÃO
A Audi está de parabéns nessa geração. Para o tipo de asfalto que enfrentamos hoje nas vias brasileiras, o TT novo (assim como o S3 e outros carros da marca) está com o acerto muito equilibrado entre desempenho e usabilidade.
Chamá-lo de confortável seria um longo pulo, mas sabem aquela sensação que você tem em alguns esportivos que eles “quicam” demais devido a acertos de suspensão demasidamente rígidos? Pois é, no TT você não sente isso. É como se a suspensão trabalhasse em dois níveis – um inicial, que permite o carro tracionar e apoiar em asfaltos ruins; e outro, mais rígido, quando você começa a se aproximar do limite de aderência.
Nota-se que o que chamamos de “damping” da Audi foi muito bem pensado também para o TT. O conjunto de suspensão do TT consegue responder de maneira muito linear em todas as circunstâncias, mas sem “rolar” demais nas curvas mais fechadas.
O resultado é que você consegue manter um ritmo de tocada com pé embaixo em circunstâncias onde um A45 AMG, por exemplo, pularia por todos os lados da pista.
Acredito que o mérito também deve ser dado à plataforma MQB. Como o chassi é muito bom, a Audi não precisou abusar de um acerto de suspensão duro demais para fazer o TT performar. Excepcional o trabalho!
RESPOSTA DOS PEDAIS E DIREÇÃO
A começar pelos frios, confesso que nunca experimentei um pedal tão preciso em um esportivo de entrada da marca. Você consegue modular a intensidade da sua frenagem de uma maneira muito boa mesmo. Dá para brincar com o pedal e, inclusive, fazer tail breaking em algumas circunstâncias a fim de apontar mais precisamente a frente do TT.
Em termos de acelerador, a Audi realmente abriu os ouvidos às críticas de que os sistemas vistos na última geração deixavam a desejar. Havia um notório atraso na resposta que, juntamente com o lag da turbina, tornava a experiência muito pobre. Hoje em dia, a resposta ainda não é imediata, mas é claramente uma evolução.
A direção, no entanto, ainda merece um pouco de crítica. Apesar de ser bem direta graças à nova calibragem com assistência elétrica, o que torna o TT um carro bem preciso nas mudanças de direção, é um pouco leve para o meu gosto e performance do carro, mesmo no modo mais esportivo. É como se fosse uma configuração mais voltada para o conforto.
O bom, no entanto, é que agora você consegue sentir um pouco melhor o que está se passando com o eixo motriz do TT sob acelerações mais vigorosas. A direção permite ao motorista entender o que se passa (se está saindo de frente ou cantando pneus loucamente).
POR DENTRO DO TT
A cabine do novo TT faz um trabalho muito superior em evidenciar que você comprou um carro especial e esportivo. Na geração anterior, a experiência parecia genérica demais e muito próxima do irmão familiar do modelo, o Audi A3. Agora, o novo cockpit e cluster digital de instrumentos é um show a parte.
A única coisa um pouco negativa é que o passageiro é relegado a meramente experimentar as sensações dinâmicas do carro, já que todas as atenções estão voltadas ao motorista.
O acabamento da Audi continua sendo, para mim, o melhor da categoria. Em especial, a BMW deveria tomar notas quanto à qualidade dos materiais a bordo do novo TT, bem como o design. Você entra no TT e se sente a bordo de um carro premium.
A posição de dirigir é baixa. Os bancos e direção são ajustáveis nas mais variadas posições (altura e profundidade). Há espaço suficiente com conforto para dois ocupantes. Qualquer coisa mais do que isso é um despropósito para o TT.
CONCLUSÃO
Não há um sequer aspecto em que posso dizer que o TT piorou em relação ao modelo anterior. É um carro novo em todos os sentidos. Aquela sensação de direção vaga, nariz pesado e respostas esquisitas de chassi e pedais morreu. Por fora, foi mais uma repaginada do que uma completa revolução.
Essa atual geração do TT carimba o passaporte como um carro legitimamente gostoso de dirigir. Depois de quase 20 anos e 3 gerações, acho que podemos deixar de chamar o TT de entrada de um “poser car” e considerá-lo efetivamente esportivo. Obviamente, ainda há limitações. Não ache que o TT de entrada tem credenciais para peitar Porsches Caymans e Boxsters por aí – esse papel é do TTS ou, até mesmo, do TT-RS.
Agora, para quem procura um carro com visual chamativo, uma compra completamente emocional, mas ainda capaz de entreter atrás do volante, o TT é uma proposta adequada. Acredito, inclusive, que para aqueles adeptos da preparação, essa plataforma MQB do novo modelo está mais do que apta a gerenciar acréscimos de potência e torque. Deve ficar bem interessante um desses com filtro, remap, downpipe e escape. Tenho certeza que os tempos de destracionadas sem controle ou sensibilidade do que está acontecendo acabaram.