Em alguns de meus posts eu sempre faço referência a carros esportivos da década de 90 em virtude da seu compromisso irretratável com a dirigibilidade. Não são poucos os excelentes modelos desta década tão notória no cenário dos carros esportivos.
Não via a hora de escrever sobre um carro dessa época e recentemente tive a chance graças a um grande amigo! O carro sobre o qual vou falar é o AUDI RS2 Avant. Que carro!
O AUDI RS2
O RS2 foi resultado da união de forças entre a Audi e a Porsche, tendo como base a perua do Audi 80. O motor é um 2.2, 5 cilindros e turbo. Esse conjunto produz, originalmente, 315 hp a 6500 rpms. Esse mesmo bloco em versão mais “mansa” equipava outros veículos da Audi, porém, no caso do RS2, a coisa começou a tomar figura quando a Porsche botou a mão – a turbina original foi trocada por uma maior, juntamente com um novo intercooler e bicos de combustível de maior vazão. Sistemas de indução e escape também foram melhorados, assim como a central eletrônica, que é encarregada de fazer tudo funcionar nos parâmetros adequados.
O AUDI RS2 em sua configuração original é capaz de 0-100 kmh em cerca de 4,8 segundos e atingir a velocidade máxima de 262 kmh, tudo isso com um peso de cerca de 1,6 toneladas. Na época do seu lançamento, a revista estrangeira Autocar conseguiu o excelente tempo de 0 – 50 kmh em aproximadamente 1,5 segundos, até então mais rápido que um carro de F1 da época em mesma medição!!!!!
O AUDI RS2 somente foi disponibilizado com câmbio manual, afinal, naquela época, câmbios semi-automatizados ainda eram uma tecnologia aplicada somente em carros de corrida. E, digo mais, em um carro como esses, perderia muito a graça sem uma bela caixa manual – evolução é necessária, mas nem sempre bem-vinda.
A Porsche também fez questão trabalhar no dinamismo do carro, e não somente no motor. A suspensão e sistemas de freio vieram da Porsche. Em termos dinâmicos, o AUDI RS2 era um legítimo carro esportivo e afiado com roupa de station wagon.
Toda essas influências da Porsche ficavam evidentes no visual do AUDI RS2 – o símbolo da marca de Stuttgart era evidente das pinças de freio; as rodas e retrovisores eram idênticas ao do Porsche Turbo 964, bem como o nome “Porsche” se fazia evidente em outros locais da carroceria!
Aproximadamente 2891 carros foram produzidos durante a existência do modelo.
CONTEXTO HISTÓRICO DO AUDI RS2
Feitas essas breves notas técnicas sobre o AUDI RS2, vamos falar um pouco sobre a minha versão da “história”!
O AUDI RS2 é um daqueles carros que eu aposto ser fruto da idéia lunática de um bando de alemães alcoolizados! É uma daqueles projetos que se apenas me falassem a respeito eu juro que eu acharia que era uma daquelas piadas de primeiro de abril!
Eu não duvido nada que o AUDI RS2 deve ter alguma origem obscura como essa, afinal, até então, a idéia de ter um station wagon esportivo era tão nefasta quanto a idéia de ter um jumento amarrado em um foguete como meio de locomoção ou um SUV esportivo (e, em 2003, todos nós sabemos onde a Porsche nos levou com o Cayenne turbo).
No entanto, como tudo na vida requer uma bela dose de ousadia (ou de um bom uísque), a AUDI foi adiante e, em parceria com a Porsche, tirou do papel e trouxe para realidade o que eu considero um dos carros esportivos mais clássicos da história.
Consigo pensar apenas em um único carro concorrente para a época, ainda que indireto, o BMW M5 E34, que estava prestes a se tornar um 3.8, 6 cilindros em linha, com 340 Hp, abandonando o motor até então 3.6 com 315 cvs – Tanto o BMW como o AUDI são alemães, extremamente práticos e verdadeiros lobos em pele de cordeiro em termos de perfomance.
Infelizmente, hoje em dia, essa sensação morreu, afinal, quando uma BMW M5 2008 gruda na sua traseira, você não tem como confundir com uma simples série 5, ou, se for uma AMG, pode ter certeza que o ronco do motor e os spoilers vão avisar do que se trata.
O CARRO TESTADO
O veículo dirigido era do ano 1995, ou seja, já um veterano das ruas e estradas brasileiras. Qualquer ser humano comum, considerando a esportividade inerente ao modelo, esperaria um carro “cansado”, dando sinais de idade, certo? Errado!
O AUDI RS2 testado prova fundalmente o que eu sempre digo sobre carros alemães: se bem cuidados, vão andar para sempre! E, notem, esse RS2 não é daqueles que enfeitam a garagem do proprietário, muito pelo contrário, é presença constante em passeios de amigos e eventos, chegando a rodar até mesmo 600 km em um final de semana com tremenda tranquilidade (exceto pela questão da autonomia de combustível – afinal, arrumar combustível de qualidade para um carro dessa estirpe não é tarefa mais simples do universo, ainda mais quando o pé pesa um pouquinho mais).
Aí, eu te pergunto: você pode reclamar de um carro que tudo do bom e do melhor que o segmento automotivo alemão pode oferecer, resistindo por mais de 15 anos e dando muita alegria? Em termos de performance, com essa potência, eu tenho certeza que é capaz de andar junto e, até mesmo na frente, de muitos carros mais modernos. Arrisco-me a dizer que a performance é condizente com a de uma Mercedes Benz C63 AMG ou um Porsche 911 Carrera S 997 PDK.
Por dentro, embora alguns sinais da idade do carro apareçam, nada está quebrado ou não funcionando! Sinceramente, eu acho bacana essa idéia de ficar com o carro por esse período todo – chama-se fazer o seu dinheiro valer. Quantos não são os que compram um veículo esportivo, rodam pouquíssimos quilômetros e vendem tomando um “tremendo fumo”, fazendo a alegria dos segundos proprietários ou lojistas? Aí está a prova – esses carros foram feitos para durar! Depois de mais de uma década com o carro, será que o proprietário conhece o carro que ele tem nas mãos como ninguém? Imagine a quantidade de estórias e experiências.
O carro tem algumas características marcantes. Obviamente, por não ter dirigido um carro “original”, fica difícil falar da sensação que os 315 cvs originais devem transmitir – meu instinto me diz que, ainda assim, deve ser mais do que satisfatório, especialmente se considerarmos a data de lançamento do carro.
O que mais me encantou ao dirigir o carro é o quão “orgânica” a condução é, ou seja, o grau de interação com o motorista. Você realmente se sente uma parte na equação direção esportiva X equilíbrio dinâmico. Não há intervenções de sistemas eletrônicos variados em excessos (pelo menos, se eles estão lá, não dão ou deram as caras). Claro que eu não ia botar à prova minhas habilidades como piloto para provocar os limites do carro, mas do que eu pude sentir, a direção é altamente comunicativa, embora pudesse ser um pouquinho mais pesada.
Os pedais se comunicam bem com o motorista, tendo respostas imediatas. Em termos de frenagem, nada daquela sensação de “estou pisando no freio, mas não sinto o que se passa”, pelo contrário, os freios são altamente sensíveis ao comando do motorista. A embreagem do carro, mesmo sendo esse RS2 preparado, é extremamente confortável e comporta bem o acréscimo de potência do carro.
Em termos de acerto de suspensão, eu acho que o RS2 poderia ser um pouquinho mais firme – muito longe de ser ruim em termos de curva, mas realmente requer um certo cuidado, pois achei razoavelmente confortável.
Na minha opinião, a única coisa que me incomodou em termos de dirigibilidade foram os engates do câmbio. Achei muito imprecisos e difíceis, mas aí é também uma questão de costume! Para sair de primeira marcha, várias vezes eu acreditava estar engatado, para então descobrir que não e deixar o carro morrer (coisa de novato mesmo da minha parte, rs). Vejam bem, eu passei boa parte do meu tempo com o Honda Civic SI, que tem, na minha opinião, um dos engates de câmbio mais precisos que eu já vi (e notem que eu já dirigi muitos carros por aí e digo que o Hondinha é foda nesse aspecto).
Em termos de ergonomia e posição de dirigir o RS2 tem mais a cara de um carro de passeio comum. Os bancos são envolventes e seguram muito bem, embora você dirija numa posição mais elevada, como em um carro mais comum. Por dentro, em termos de amenidades, o RS2 tem tudo do melhor para época, o que pode não ser considerado muito para os padrões atuais. O acabamento fala por si só – pode dar sinais da idade, mas está lá, perfeito, sem nada quebrado, sem barulhos inconvenientes, rasgos nos bancos – nada!
Até hoje, o estilo quadradão da década de 90 é marcante e de personalidade. Mesmo hoje em dia, no meio desta orgia de designs cheios de vincos e curvas agressivas, é bacana você ver um carro com um visual mais “old school”. É diferente e agradável aos olhos! Tenho vontade de agredir quando vejo alguém falando mal de carros assim, mas, para esses, o mercado tem os Velosters e afins!
CONCLUSÃO
Em termos de carro, o AUDI RS2 é simplesmente um legítimo esportivo alemão com performance que lhe garante um lugar reservado entre os grandes da história do automóvel. Cavalaria de sobra com dirigibilidade de sobra, sem abrir mão de muita praticidade.
Olhando para o carro testado, temos a prova definitiva de que os carros alemães, se bem cuidados, são feitos para durar! Pensem bem, muitos das pessoas que fazem 18 anos esse ano e vão tirar suas respectivas CNH’s estavam nascendo quando o RS2 já estava mandando ver nas Autobahns alemãs há 18 anos atrás.
Porém, quando colocamos o AUDI RS2 em perspectiva e observamos o contexto de seu nascimento, constatamos a grande ousadia por trás de sua concepção – um station wagon com potencial para botar em xeque a performance do típico carro esportivo dois lugares da época – esse, no meu ver, é o maior legado do carro!
Graças a este tipo de ousadia é que vemos resquícios de loucura no atual mercado automotivo, ou será que quando o RS2 foi criado o único critério era o retorno financeiro para a AUDI? Aliás, a própria VW, ao ressuscitar a Bugatti e criar o Veyron, tinha em mente o retorno financeiro de cada carro vendido? Por certo que não! Temos muito a agradecer esses engenheiros ousados que tiram as idéias do papel e as tornam realidade.
Belissima materia!
Muito boa matéria!!
Show de bola.. Tenho 21 anos, me chamo Gabriel, e em questão de pouco tempo estarei formado. Um dos meus objetivos em vida é adquirir este belo exemplar AUDI.Razões para comprar este carro não em faltam: sou fanático e amante do falecido Grupo B de Rally, onde os Audi Quattro S1 E1 e E2 e sua fantástica tração integral dominaram por muito tempo todos os tipos de solo que tocavam, quando seus motores 5 cilindros em linha ecoavam por costas rochosas e passavam a centímetros de metores espectadores pelas ruas e vielas. Isso sem falar do ronco e das labaredas de fogo, do turbo lag, do som semelhante aos V10, porém muito superior, ao meu ver.E tudo que falei a cima se resume neste belo exemplar: Tração integral, 5 cilindros em linha, quase um orgasmo sonoro, e um visual diferenciado.Uma coisa é certa: em 2017, ou eu irei importar um raro Audi Quattro Sport, ou comprarei uma máquina dessas por aqui mesmo, em terras tupiniquins, onde um RS2 bem cuidado custa em torno de R$100 mil.Grande abraço!
Eu conheço uma pessoa que gostaria de vender uma RS2 monstruosamente forte!