PORSCHE 911 996 TURBO PREPARADO – VÍCIO EM ADRENALINA

PERFORMANCE VS. EXPERIÊNCIA

Eu gosto de pensar que para o verdadeiro entusiasta automotivo, há dois critérios essenciais na hora de escolher o brinquedo que vai ocupar o local especial da garagem – (i) o foco na experiência; ou (ii) performance.

São esses critérios que fazem um comprador escolher, pelo mesmo dinheiro, entre comprar um Nissan GTR 2012 ou uma Ferrari 360 Modena. O cara que vai atrás do nipônico, muito provavelmente, está atrás de performance; enquanto que o comprador da Modena quer algo mais focado na experiência.

NISSAN GTR KORNCARS

Não me entendam errado, não quero dizer que a experiência de dirigir um GTR seja pobre, mas todo entendido no assunto sabe que o Nissan é uma máquina de performance e que a eletrônica do carro faz ele comer curvas ou arrancar com seus quase 1800 kgs de maneira que contraria qualquer lei da física. Por outro lado, dizer que a Modena é um carro manco seria um exagero para qualquer ser humano comum, mas 400 cavalos nos tempos de hoje, em um carro com uma tecnologia de 15 anos atrás, não necessariamente significam que o carro é um fenômeno de performance.

Ferrari 360 korncars

Para aqueles focados na experiência de dirigir, é sempre um momento bacana dirigir um carro diferente, independentemente do seu desempenho. É sempre uma constante busca por algo especial e novo.

Agora, para aqueles focados em performance, é um exercício complicado. Não basta o carro ter uma tocada fenomenal. O desempenho é algo que mexe com os instintos e adrenalina do cara. É como se fosse um vício – até onde você vai para saciar aquela vontade de “mais”. Qual o limite do seu carro? Tenho um amigo que diz que seu carro pode ser tão forte quanto a profundidade do seu bolso. Qual o limite do motorista? Até o ponto em que  a performance do carro é condizente com as suas habilidades ou reflexos.

A ESCOLHA SENSATA DA PERFORMANCE

Em termos de limite de carro, se tivesse coragem na atual fase da minha vida para torrar dinheiro para ter um canhão com conjunto, teria que ser um esportivo decente (nada de cadeiras elétricas), com um bom conjunto dinâmico de fábrica e aerodinâmica para isso. Teria também de ser um carro que não custasse caríssimo e que tivesse reputação de ser confiável, bem como fácil de mexer. Se puder ser um sleeper, melhor ainda. Sobrealimentado originalmente de fábrica e com tração integral, sem dúvidas, facilitariam a vida.

Um carro que para mim preenche bastante os requisitos acima sempre foi o Porsche 911 996 Turbo, fabricado de 2000 a 2005. Ok, definitivamente, não é o maior sleeper por aí, mas é um Porsche, tem conjunto de sobra, tração integral e é turbo original de fábrica, o que significa que há espaço para apimentar consideravelmente o que já há debaixo do capô. Os preços estão ficando convidativos, na casa dos 200 mil reais para um bom exemplar 2001. O câmbio manual dá um toque de nostalgia e com uma embreagem reforçada, aguenta tranquilamente peformance extra.

Porsche 911 Turbo 996 Korncars I

A geração 996 do Porsche 911 está muito longe de ser querida dos fãs da marca. Muitos questionam o visual e a durabilidade do carro, conhecida por ter sérios problemas crônicos nos Carreras. Porém, os Turbos da geração 996 não sofrem dos mesmos problemas mecânicos e o visual é, na minha opinião, agressivo o suficiente, corrigindo os defeitos estéticos das versões ordinárias.

O propulsor 3.6, 6 cilindros boxer, vinha originalmente com 420 Hp e havia a possibilidade de instalar um kit X50, que elevava a potência para saudáveis 450 Hp, via instalação de turbinas maiores (as quais viriam a ser padrão no modelo Turbo S, juntamente com os freios de cerâmica). Tudo isso fazia o turbo “virgem”, com câmbio manual de 6 marchas ser um carro capaz de 0 a 100 Km/h em 4 segundos baixos e velocidade máxima acima dos 310 Km/h. A variante Turbo S ou aquelas equipadas com o X50 eram capazes de ser marginalmente mais rápidas.

Porsche 911 Turbo 996 Korncars v

O propulsor no 996 turbo tinha um coração diferente daquele que equipava os Carreras. Trata-se de uma evolução do motor que equipava o modelo na geração que lhe antecedeu, a 993, porém, refrigerado a água.

Como um carro do começo dos anos 2000, o 996 Turbo, apesar de ter relativa tecnologia para sua época, ainda é considerado um carro razoavelmente analógico, o que o torna mais simples de mexer do que, por exemplo, o seu sucessor, o 997 mark I.

Um 996 Turbo, com uma bela preparação básica, que inclua turbinas do kit X50, periféricos, intercooler melhorado, um escape menos restritivo e um acerto bacana vai lhe render saudáveis 550 a 600 cvs, sem risco de quebra. Lembre-se, porém, que a idade mais avançada do modelo vai requerer mais cuidados na hora da compra. Se tiver muito rodado, vai ter que atentar para aquilo que está desgastado. Se, por outro lado, for um garage queen com nem 15 mil km, é bem provável que você perderá tempo arrumando tudo aquilo que está velho pela idade ou ressecamento. Vai ser um exercício “pentelho” até você deixá-lo prontinho para fazer essa preparação básica.

QUANDO O BICHINHO DA PREPARAÇÃO COMEÇA A CUTUCAR

Assim que o brinquedo ficar pronto, você terá um carro que tem força suficiente para espancar boa parte dos esportivos que emparelharem ao seu lado. Porém, aí a coisa começa a complicar se você é aficcionado por performance. Em pouco tempo, você se acostuma com aquele nível de performance e, como com qualquer outro vício, você quer voltar a sentir aquela dose de adrenalina interminável que sentia logo que o carro ficou pronto.

Porsche 911 Turbo 996 Korncars iv

Seu caminho é simples, vamos elevar a pressão, dar um upgrade na embreagem e “pau na máquina”. Mais algum tempo se passa e… lá está o “diabinho” no seu ombro, pedindo mais. Como um ser humano acometido por um vício, você cede e busca mais. Vem a hora de forjar o motor; pistões e bielas reforçadas. Suspensão mais focada em colocar toda a força no asfalto, pois, nessa altura, o carro já está com tanta pressão, despejando tanta potência e torque você precisa de mais “chão”, coisa que o conjunto original já não dá mais conta. A tração integral está atrapalhando o desempenho? Ótimo, vamos “desligar” o diferencial para que tracione apenas o eixo traseiro. Nessa altura, a pressão nas turbinas já ultrapassou muito a fronteira do original… talvez duas vezes e meia mais para começar a brincar no “mapa” mais manso.

É aqui que chegamos no carro que tive o prazer de andar.

O MÉDICO E O MONSTRO?

Qual a sensação de andar em um monstro com tranquilamente mais do que 750 cavalos? Difícil de mensurar em palavras.

Porsche 911 Turbo 996 Korncars III

A primeira puxada, confesso, foi difícil de entender o que aconteceu. As turbinas encheram com uma violência descomunal e os freios foram acionados bem antes que meu cérebro pudesse processar o que havia ocorrido. As demais puxadas fizeram com que eu me acostumasse um pouco mais, porém, com uma mistura de “susto” com adrenalina. Mais algumas puxadas e eu parecia viciado, queria mais… saber do que o monstro seria capaz em marchas mais altas. Obviamente, as condições de tráfego não permitiam saciar essa vontade.

Cada puxada, uma dose súbita e agressiva de força. A paisagem começa a embaçar já na segunda marcha, afinal, a primeira é para tirar o monstro da mobilidade. As coisas acontecem muito rápido. Se em um carro esportivo normal você faz um cálculo de distância e imprevistos razoável antes de afundar o pedal direito, em um “monstro” desses, a conta é muito mais complexa. É preciso muita maturidade para controlar os ímpetos da adrenalina na hora de abrir o acelerador. Não há espaço para erros.

Para concluir: foi muito bom experimentar algo com o qual sempre idealizo – montar um canhão de performance. As sensações despertadas e a adrenalina são coisas imensuráveis em palavras. Por outro lado, acredito que preciso de alguns longos anos de experiência a bordo de carros cada vez mais fortes até que tenha habilidade e condições psicológicas de montar algo nesse nível. Até lá, é melhor, para mim, focar na “experiência” e dirigir o maior número de carros que eu puder.

Em termos de investimento, está provado que com uns bons R$ 300 a 350 mil reais é possível montar um carro com nível de desempenho acima dos hypercars mais caros que as montadoras podem oferecer. O carro em que andei está montado há um tempo razoável e, até agora, sem maiores percalços, porém, lembremos que o carro está equipado com equipamento de ponta. Sem dúvidas, esse 996 turbo “fuçado” foi o carro mais forte que tive o prazer de andar.

 

 

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7 comentários sobre “PORSCHE 911 996 TURBO PREPARADO – VÍCIO EM ADRENALINA

  1. Cara já gostava de porsches, más ultimamente frequentando a posto da Europa conversando com os “tiozinhos” e com vc tbm rssr, cada vez mais fico fascinado por elas, e sim uma 996 turbo talvez seja meu próximo “brinquedo”, adorei a matéria…um abç
    att.
    Leonardo Petruccelli.
    audi tt.

  2. Paulo, voce comentou que o 997 mk1 já é mais eletornico e um pouco mais difícil de modificar, e falando nele, ouvi que o 997 mk2 (já com o PDK) tem um motor mais frágil para preparações, e que até o 997 mk1 a liga usada era mais resistente e aguenta preparações mais pesadas. Essa informação procede?
    PS: ótimo texto, deve ser uma puxada e tanto!

    1. Na realidade, pelo fato do Metzger ser um motor mais antigo, é natural que ele tenha mais opções de preparação. Porém, isso não quer dizer que o novo motor seja menos resistente. Na realidade, o limite de preparação do novo carro reside mais no quanto o câmbio PDK aguenta. O desenvolvimento de kits de preparação para o 997.2 Turbo tb tem a ver com os carros estarem em garantia no exterior, que está acabando agora. A tendência é comecem a aparecer mais kits de preparação.

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