Sempre afirmo para todos aqueles que conversam comigo que não é necessário gastar rios de dinheiro para se comprar um carro bom, que seja capaz de entreter. É possível encontrar pedaços de excelência sem ultrapassar a mítica fronteira dos R$ 100.000,00.
Aqui no site, eu sempre tirei o chapéu para os carros equipados com o motor 2.0 Turbo com injeção direta de combustível (TFSI), porém, até 2010, para ter um carro com esse conjunto motriz, fosse ele um Volkswagen ou um Audi, custava caro.
Para minha surpresa, a Volkswagen anunciou que substituiria a geração do Jetta na base do Golf mark V, até então equipado com um emocional (apesar de manco) 2.5, 5 cilindros e aspirado, pela então nova geração do modelo com o 2.0 TFSI.
Se não bastasse isso, o antigo e monótono câmbio automático tiptronic daria espaço ao famoso dupla embreagem (DSG) de 6 marchas.
Tudo isso em um pacote que custaria menos de R$ 100.000,00. Seria um sinal de respeito ao consumidor brasileiro? Quase, se não fosse a irritante prática da Volkswagen em precificar seus opcionais como ouro.
Vamos falar do Jetta 2.0 TFSI com câmbio DSG!
DESEMPENHO E ASPECTOS TÉCNICOS
O Jetta turbo, com já adiantado, vem com o motor 2.0 TFSI, famoso desde meado dos anos 2000 nos carros da Audi. Diversas vezes foi eleito o melhor motor 4 cilindros do mundo na última década. Não há muito do que reclamar, exceto pelo aspecto meio “comum” desse conjunto, pois equipa os mais variados modelos, de SUVs até esportivos.
Em termos de números, no atual Jetta TFSI, esse motor rende 211 cavalos a 5100 rpm e 28,6 Kgfm de torque a 2000 rpms. A frieza desses números não faz jus à sensação de dirigir o Jetta 2.0 TFSI, especialmente colocando na equação o prazer proporcionado pela eficiência do câmbio de dupla embreagem (DSG).
Andando no modo “civilizado”, durante condições de tráfego intenso, o Jetta age como um legítimo sedã comportado. Com muita tranquilidade e pouco consumo de combustível. O Jetta acorda mesmo é nos 2000 rpms, quando vem o pico de torque . Até lá, o que você tem é o turbo lag, que é aquele hiato de tempo em que nada acontece e o carro parece manco. É uma característica muito diferente do antigo modelo equipado com o motor 2.5, 5 cilindros aspirado, que apesar do menor pico de torque, já entregava no momento zero, assim que você encostasse no acelerador, mais força. O que ocorre é que até a turbina encher no modelo atual, ele é apenas um carro aspirado 2.0.
Realmente, sob o trânsito intenso, o Jetta antigo parece mais ágil e mais amigável, respondendo melhor aos comandos do motorista no acelerador. Porém, quando a turbina enche no atual carro, esqueça qualquer semelhança. Não se pode nem ao menos dizer que estão na mesma categoria de desempenho, tamanha a diferença. Aliás, afirmo que na categoria de sedãs médios, em termos de performance, o atual Jetta não tem competidores, nem mesmo o falecido Civic SI é capaz de brigar com o Jetta 2.0 TFSI em linha reta.
O câmbio DSG de 6 marchas, por sua vez, tem um papel muito importante no desempenho do Jetta 2.0 TFSI. A dupla embreagem funciona, basicamente, da seguinte forma: há uma embreagem para as marchas ímpares e outra para as pares. Quando o carro está em primeira marcha, a segunda já está pré-selecionada, o que minimiza absurdamente os tempos de troca e as perdas para o conjunto. Em especial, com o DSG, não há conversor de torque como em uma caixa automática convencional, pois trata-se, na realidade, de um câmbio manual, com duas embreagens de acionamento automático. Certamente esse tipo de tecnologia é o futuro da indústria automobilística. Se você não conhece, vá fazer um test drive. Tenho certeza que você passará a desprezar os antigos automáticos.
No quesito entretenimento, apesar das pífias hastes plásticas atrás do volante que a Volkswagen chama de “borboletas”, a resposta aos comandos é excepcional, quase que imediata. Divertidíssimo de brincar, apesar do câmbio hesitar em aceitar reduções de marcha quando ele entende que pode ser prejudicial ao carro. Nada que chega a incomodar, como no caso, por exemplo, dos atuais Mercedes Benz que, em alguns casos, só permitem reduções quando os giros baixam de 4 mil rpm. Se você é do tipo que apenas gosta de ir rápido e não se meter a trocar as marchas, apenas acione o câmbio no modo esporte, logo atrás do drive – as respostas do acelerador e do câmbio serão mais rápidas ainda, mas, nesse último caso, serão automáticas.
Em termos de linha reta, pelo menos, o Jetta 2.0 TFSI é um carro valente. Não pense que qualquer BMW, Mercedes ou Audi terão vantagem nas arrancadas mais fortes. Pelo contrário, o Jetta tem munição de sobra para deixar os modelos de entrada de Série 3, Classe C e Audi A4 a ver navios. Arrisco que o mais próximo em performance do Jetta seria o atual BMW 320i, mas ainda acredito que o Jetta é mais rápido na linha reta. A Volkswagen declara que o atual Jetta vai de 0 a 100 km/h em 7,2 segundos e atinge a velocidade máxima de 242 Km/h. Na minha opinião, números pessimistas demais.
Não podemos nos esquecer também que devido ao tempo de mercado do 2.0 TFSI, não são poucas as opções de preparação disponíveis para o Jetta. Em especial, podemos lembrar das preparações APR e seus diferentes estágios. Dependendo do nível, já vi Jettas atingindo a fronteira dos 400 cvs, em especial nos Jettas de dois anos atrás, que vinham com menos travas eletrônicas (para identificá-los, basta ver se você está diante de um Jetta com 200 cvs ou 211 cvs. O mais antigo, é mais fácil de mexer).
ASPECTOS DINÂMICOS
Se no quesito linha reta, o Jetta prova-se como um carro excepcional, acredito que na parte dinâmica ele deixa a desejar. O Jetta é um carro de passeio e está muito longe de ter qualquer pretensão esportiva. Sim, ele é ágil, mas a suspensão, chassi e freios não conversam com o desempenho do motor e câmbio. Isso não quer dizer que o Jetta é um carro perigoso, mas apenas que não tem os recursos necessários para acompanhar completamente aquele motorista que quer “arrepiar” nas curvas ou nos pontos de frenagem.
Para grande parte dos compradores, o conjunto é mais do que adequado. Para a “molecada”, na minha opinião, poderia ser melhor. O modelo antigo, 2.5, tinha chassi e suspensão mais refinados que o atual modelo, o que trazia mais confiança na hora de atacar curvas. O atual modelo é mais desconectado do asfalto, o que o torna mais confortável para uso diário. Para quem busca esportividade, tenho muita curiosidade em ver como ficaria o antigo modelo com o motor e câmbio do atual carro.
A direção também é algo que denota a característica de passeio do Jetta atual. Não é leve, muito menos pesada, é na medida certa para um carro de passeio. Porém, o maior pecado, na minha opinião, é que apesar de mais direta do que a do modelo antigo, têm ainda uma relação muito longa. Para quem está acostumado, por exemplo, com a relação de um Honda Civic, vai achar que está bordo de um navio quando dirigir o atual Jetta. Uma direção mais direta faria um bem enorme para esse carro.
ACABAMENTO
Esse é o grande pecado do atual Jetta, especialmente comparando com o antigo modelo. É um festival de plásticos duros para todos os lados, do tipo que é desagradável ao toque. Sabem no modelo antigo onde há alguns revestimentos macios nas portas e no painel? Pois é, no atual eles foram embora. Os bancos de couro também parecem ser de pior qualidade. Além disso, os botões parecem todos mais frágeis comparativamente ao carro que o precedeu.
Por um lado, isso tudo é até justificável. Talvez fosse a única forma de colocar o motor e câmbio que o carro tem sem perder o preço competitivo. Concessões tiveram de ser feitas. Porém, exageraram na medida.
Se não bastasse isso, há sempre a questão dos opcionais quando o assunto é Volkswagen. O modelo de entrada com motor turbo parte de cerca de R$ 80.000,00. Com todos os opcionais (ajustes elétricos de bancos, farol de xenon, rodas diamantadas, bancos de couro, teto solar e central de multimídia completa), o carro vai para cerca de R$ 110.000,00. É o mesmo carro com uma diferença de preço de cerca cerca de 40%!!!!! E, detalhe, não pense que você pode escolher um ou outro opcional, pois eles são vendidos em pacotes!
Se você optar pelo Jetta mais completo possível, ainda assim vai ter que conviver com os pecados de acabamento que falei acima. Nesse sentido, por mais forte que o Jetta possa ser em linha reta, se torna meio que impensável comprar o Volkswagen, ao invés de um BMW série 3, Classe C ou Audi 4, cujos acabamentos não tem nenhum dos pecados do Jetta, bem como são carros com suspensão, freio e chassi mais refinados.
VISUAL E CONVIVÊNCIA DIÁRIA
Tem gente que acha o atual Jetta um carro sem sal. Dizem que falta personalidade e algo que desperte desejo nele. Concordo com esse argumento. Realmente, o Jetta é um carro que não transmite nenhuma emoção para que olha para ele. Longe, porém, de ser um carro feio. Acho que ele é razoavelmente chique e sutil. No tempo em que vivemos, para trafegar todos os dias, ninguém precisa de uma melancia na cabeça. Nesse aspecto, ponto positivo para o Jetta. Se o intuito é ter um carro rápido, que pode ser econômico e chamar menos atenção do que um Mercedes, BMW ou Audi, o Jetta cumpre bem esse papel. Aliás, nota-se que é um carro que tem aceito muito bem uma blindagem, justamente pelo motor e câmbio.
Um Jetta TFSI blindado é uma medida muito boa para quem busca um carro chique, que não chame atenção e que lide muito bem com o peso extra da blindagem.
Em termos de posição de dirigir, não espere nada do tipo bancos colados no assoalho do carro. É tudo como deveria ser em um carro de passeio comum. Os bancos poderiam ser um pouco mais confortáveis, pois têm uma pegada um pouco mais firme do que se espera para um carro tão civilizado. De maneira geral, não dá para reclamar, mas o motorista certamente fica mais confortável em modelos mais caros, como o Passat.
CONCLUSÃO
O Volkswagen Jetta é um carro honesto em todos os sentidos possíveis. Em benefício de ter o câmbio e motor, é perceptível que foram feitas concessões em termos de acabamento, caso contrário, certamente, o carro não seria precificado abaixo dos R$ 100.000,00 (vamos esquecer a versão mais completa). O desempenho em linha reta é acima da média, nada comparado a qualquer outro modelo concorrente japonês ou nacional. Para brigar com o Jetta em linha reta, só mesmo com as versões intermediárias do Audi A4, BMW Série 3 ou Mercedes Benz Classe C, mas, mesmo assim, ainda dá para apostar no Volks.
Para quem quer acelerar e gosta de preparar o carro, não são poucas as opções para brincar com o câmbio DSG e o motor 2.0 TFSI. Porém, se na linha reta o Jetta é mais do que valente, em termos de chassi, suspensão e freios ele deixa a desejar para quem quer um carro com uma pegada mais esportiva. Para ter um Jetta “focado” em desempenho, o investimento vai ter que ir além da preparação de motor e câmbio, para focar também em um jogo de molas H&R, Bilstein ou Eibach, assim como freios melhores. Talvez seja melhor pagar um pouco mais e comprar o atual Golf GTI.
Por outro lado, para aqueles em busca de um carro muito bom e ágil, que não chame atenção e que lide bem como uma eventual blindagem, difícil encontrar proposta melhor do que o Jetta, especialmente se o comprador puder ignorar as falhas de acabamento e relevar os custos de opcionais.
O Jetta MKV com motor TFSI e câmbio DSG existe. É a versão GLI, equivalente ao GTI, não disponível no mercado brasileiro.
Opa! Eu sei disso, eu gostaria mesmo é de andar com esse carro!
Korn, primeiramente quero lhe dar os parabéns pelo nível dos seus textos! Na minha opinião, todos num patamar muito acima de qualquer outro site entusiasta, programa de tv ou revista de carro brasileiros.. Realmente um conteúdo extremamente prazeroso de se ler.
Em relação ao Jetta, prefiro muito o conjunto do Jetta 2.5! Lembro com carinho do ronco do seu 5 cilindros, de fato, extremamente emocional, e é de longe o que mais me conquista neste carro. Pode não ser o mais rápido, mas proporciona uma tocada extremamente prazerosa. Além disso essa geração do Jetta sim tem características de um carro alemão de verdade, algo que não pode ser dito a respeito do TSI. Tanto no aspecto do refinamento do chassi como da qualidade do acabamento interno (com um interiorzinho bege original vw ainda…).
E digo mais, é um carro que tem personalidade, algo que a linha atual da volkswagen esta simplesmente ignorando..
Como uma opção entre 45-50mil reais? não consigo cogitar melhor opção de compra pra quem gosta de dirigir.
Tenho quase certeza de que será meu próximo carro, isto se não me deixar levar pelos encantos de uma BMW 330i e46 2001, que aí sim, meche comigo.. e também tira as minhas calças na hora da manutenção…
Em relação a isto gostaria de lhe perguntar a sua opinião. A 330 e46 é um carro razoavelmente confiável? Comprar uma 01 é garantia de muitas passagens na oficina (especialmente se for blindado), por mais que eu conheça o carro? Grande abraço,
Carlos.
Fala Carlão! Muito obrigado pelo elogios!
Bacana suas considerações sobre os Jettas. Eu consigo entender sua preferência pelo Jetta 2.5 (base do Golf MK V, que não veio ao Brasil). Ele é melhor acabado. Chassi e suspensão são mais refinados. O motor é realmente muito emocional. Porém, esse modelo tem seus probleminhas chatos – Primeiro, bebe um absurdo. Segundo, o motor grita muito bonito, mas o carro não anda nem um pouco compatível com o ronco. A direção poderia ser um pouco mais direta. A suspensão é gostosa de tocada, mas poderia ser um pouco mais macia.
O atual, por sua vez, é um carro menos refinado de chassi e suspensão. O acabamento é pior ao Jetta antigo. Sem dúvidas nesse ponto. Porém, o motor e o câmbio TSi compensam isso absurdamente. Anda muito bem o atual Jetta. A direção, na minha opinião, é um pouco mais direta que a do modelo antigo; e, mesmo com as rodas 17, o atual modelo é mais confortável que o antigo na buraqueira de SP.
No quesito subjetivo, o antigo faz um trabalho melhor em passar a sensação de ser especial.
Digo isso pq tenho os dois carros próximo de mim (minha mulher tem um 2.5 e minha sogra o 2.0 TFSI).
Quanto ao BMW 330i E46, é um carro confiável. Porém, é um carro de 10 anos. Isso significa que você vai frequentar mais a oficina sim. Certas coisas é uma questão de idade. Há possibilidade de peças virem do EUA, o que facilita muito (mesmo com o Dólar caro). Quanto a uma blindada, o seu ônus em termos de desgaste de suspensão, freios e pneus vai ser bem alto, sem contar a manutenção da blindagem em si (delaminações de vidro etc.).
Boa noite Korn! Parabéns pelo texto, realmente de altíssima qualidade, impecável! Sem mais delongas, eu tenho 17 anos e completarem 18 em fevereiro e como qualquer um gearhead não penso em outra coisa a não ser o meu primeiro carro. Já olhei muitas opções, desde volvo c30 t5 r design até passat 11/11, olhei por olhar pois sempre fui apaixonado por jettas especialmente com o atual que por mais que digam que é um carro sem graça, manco (na versão confortline) eu tenho um sentimento tão grande por ele que qualquer aspecto negativo que ele possua eu facilmente relevo. Já vi muitas reviews e vídeos com o carro e o único defeito dele que realmente me incomodaria é o comportamento em curvas, que graças a suspensão, é pífio, tendo em vista isso eu pretendia realmente fazer um projeto com várias melhorias desde freios, pneus e suspensão até o motor. Infelizmente não conto com uma verba muito grande, que para falar a verdade nem sei quanto é, estimo em 55 mil e forçando 57, e nessa faixa tem se tornado tarefa difícil achar um ao meu gosto já que não abro mão de alguns opcionais: teto solar, interior bege e roda com detalhes em preto. Eu enrolei demais, eu sei, mas eu queria dar um pouco de contexto a pergunta e um peso (bem) maior ao jetta. Nessa faixa de preço e tendo em mente preparações futuras para o uso diário e pista, além de questões como manutenção, consumo e seguro, você acha que existe melhor opção? Caso sim, qual seria? Desde já grato a atenção (mesmo que provavelmente você não deve nem ver esse comentário), abraços!!