Se você está pensando em ler este texto achando que vou detalhar todos os aspectos tecnológicos da recém lançada nova geração da Mercedes Classe S, pode parar por aqui.
Ok, sim… é estupidamente confortável. Sim… tem milhares de opções de massagens quentes ou frias para todos os ocupantes… Sim, tem tudo que há de mais avançado que a Mercedes Benz pode colocar dentro de um carro em termos de tecnologia, luxo, refino e segurança. É a vitrine mundial dos carros luxuosos.
Porém, não vamos nos esquecer, a Classe S é ainda um CARRO, que, em algum momento, deve ser dirigido. É nisso que pretendo focar nesse review.
Há essencialmente dois tipos de comprador de Classe S: (i) aqueles que andam no banco traseiro, deixando toda a parte “proletária” de dirigir a cargo do Jarbas; e (ii) aqueles que efetivamente vão dirigi-la. No Brasil, acredito que a maioria dos compradores enquadra-se na categoria (ii). Será que o übber sedã da Benz entrega uma experiência legal de direção? Será que é possível se divertir guiando um sedã de pouco mais de 5 metros e mais de 2 toneladas?
MOTOR: Para começar a analisar este ponto, vamos olhar para o motor da S500: um V8, bi-turbo, com cerca de 450 Hp e mais de 70 Kgfm de torque. O conjunto é mais do que suficiente para empurrar o carro com vitalidade. A sensação é longe da esportividade, pois toda a entrega de força ocorre de maneira muito linear e suave. Há um mínimo lag até que o turbo dê sua tradicional patada. Porém, não há drama ou emoção, mas sim frieza e precisão germânicas.
CÂMBIO: A caixa automática 7-g tronic faz um excelente papel em não castrar a força da S500. Para a proposta do carro, é simplesmente perfeita. Porém, qualquer interação com os comandos manuais é meio frustrante. A resposta das borboletas é letárgica.
MODOS DE CONDUÇÃO: Você pode optar por alguns modos de condução, que são configuráveis via central do carro, mas, em linhas bens gerais, são dois modos de pilotagem: o confortável e o esporte.
O “confortável” torna o carro um completamente anestesiado com relação ao que se passa do lado de fora. A direção fica bem leve, o câmbio opera da maneira mais suave que já vi em um carro, a resposta do acelerador é completamente filtrada para evitar acelerações mais bruscas.
As coisas ficam mais interessantes para quem dirige quando o modo “esporte” é selecionado. Não vou chegar ao ponto de dizer que a S vira um instrumento afiado e preciso de pilotagem, mas a resposta da direção fica mais direta e mais pesada. O acelerador fica mais alerta. Os giros sobem com mais gosto e beliscam o corte.
Você realmente passa a ter sensação de que está conduzindo um Titanic e noção que está cutucando um carro de dimensões continentais. A resposta do carro sob acelerações mais vigorosas e nas tomadas de curvas mais fechadas é ótima para o o seu tamanho. Você compreende exatamente o espaço que ocupa e até onde pode forçar o carro antes dos anjos da guarda eletrônicos entrarem em ação.
Em alguns momentos eu me surpreendi com a segurança que o carro transmite. Mesmo sob acelerações mais vigorosas, a S500 é comportada, fria e segura. Em nenhum momento você tem aquela sensação de que talvez você esteja indo rápido demais ou que alguma coisa vai dar errada, é mais o susto de olhar para o velocímetro e ver uma velocidade nada condizente com a sensação que você tem atrás do volante.
No modo esporte especialmente, acredito até que a Mercedes Benz fez um ótimo trabalho na calibragem da direção – ela é direta o suficiente para lhe permitir apontar o carro nas tomadas de curva, mas sem comprometer o caráter luxuoso do S500. A aceleração, como já disse, é mais do que satisfatória. Chego ao ponto de dizer que o carro tem torque e potência suficientes para fazer o S500 se movimentar com agilidade. Não chega a ser um desempenho de tirar o fôlego, mas lembremos que para isso veremos os modelos AMG. O câmbio realmente é focado na personalidade do carro, ou seja, voltado para o conforto e se recusa a ter qualquer pretensão esportiva. O chassi é versátil, pois faz um excelente trabalho em disfarçar o tamanho do carro nas curvas mais fechadas.
CONCLUSÃO
Para finalizar, trata-se de uma experiência divertida, envolvente ou marcante atrás do volante? Não. Acho que carros como a Classe S não estão aí para isso. É uma proposta diferente.
Curiosamente, minha expectativa era dirigir um carro muito luxuoso, confortável e refinado, mas com zero “pegada”, porém, houve circunstâncias em que me surpreendi positivamente com as aptidões dinâmicas da nova Classe S. Sim, é grande, pesada, luxuosa, confortável e tecnológica, mas não é um carro completamente desconectado do motorista. A direção e suspensão da S500 são, na minha opinião, os grandes trunfos do carro para quem procura sentir um pouco de “tocada”, especialmente no modo mais esportivo de condução. Por outro lado, o tamanho do carro, seu peso, câmbio e resposta do acelerador lhe trazem de volta à realidade… ou melhor… proposta da classe S.
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