LAMBORGHINI LP 570-4 PERFORMANTE

Na linha das minhas postagens mais recentes, como muitos de vocês se recordam, tive a chance de dirigir um punhado de carros exóticos no começo de 2013. Depois da Ferrari 458 Itália, que foi simplesmente uma experiência épica, foi a vez de dirigir a Lamborghini LP 570-4 Performante, que nada mais é do que a versão mais radical, voltada para track-days, da atual a Lamborghini Gallardo conversível.

Antes de começar o passeio, as minhas expectativas para esse carro eram altíssimas por diversas razões. A começar pelo fato do carro ser conversível. Não é todo dia que você tem uma chance de dirigir um carro conversível, muito menos se for uma Lamborghini, com um motor V10 e, especialmente, na versão mais radical possível. Entretanto, (in)felizmente, tinha uma Ferrari 458 antes que acabou fazendo com que eu me frustrasse um pouco.

Chamar a Performante de um carro ruim seria blasfemar contra um dos deuses automotivos, mas acho que as tecnologias empregadas na Lamborghini Gallardo e suas variantes precisam de uma atualização urgente.


Vamos por partes!

A TOCADA…

 
Carros parados na lateral da estrada. Acabo de sair da Ferrari 458 Itália e me desloco em direção à Performante. Lá está ela, com um visual intoxicantemente maravilhoso, sútil e agressivo. Estou ansioso. Olho por fora e mal acredito que em breve estarei a bordo de um Lamborghini V10, com a capota abaixada e explorando curvas a velocidades mais do que proibitivas.

Entro no carro, começo a tentar achar a posição adequada de dirigir. Tarefa nada fácil. Ajusto a altura do banco um pouco para baixo e, ainda assim, do alto dos meus 1,86, noto que a parte de cima do parabrisa cobre razoavelmente boa parte do meu campo de visão… gggrrr. Depois de brigar um pouco com o banco, acho uma posição “menos ruim”. “Dane-se”, penso eu em voz alta, afinal, em alguns instantes vou estar explorando aquele V10.

Ordem dada pelo rádio e começamos a nos deslocar rumo a estrada. Nesse momento, tenho minha primeira surpresa sobre o Lambo. Esperava um ronco muito mais estridente e sonoro que o da Ferrari 458, mas, curiosamente, nada de tímpanos sangrando, apenas um ronco forte e bonito, mas muito menos agressivo para os ocupantes comparativamente com a Ferrari.

A famosa frase do carro-madrinha, “everybody, try to keep up!” ecoa no rádio no console. Alguns tapas na borboleta da esquerda, segunda marcha engatada, modo corsa (mais esportivo possível) selecionado e afundo o pé como se fosse atravessar o piso do touro… tapa na borboleta da direita e tomo um susto… a frente do carro afunda… terceira marcha entra e tomo um tapa na nuca… Nesse momento, confesso que achei que tinha feito alguma burrada. Como viria a descobrir nas próximas puxadas, não havia nada de errado comigo, mas sim com o câmbio do carro.

A cada subida de marcha, um mergulho para frente seguido de um tapa na cabeça. Agressivo, porém, cansativo. Por outro lado, a cada reduzida, o câmbio simula muito bem um punta-tacco e você não sente absolutamente nenhum tipo de tranco.

Vejam bem, a Performante que dirigi é equipada com o câmbio E-gear, que nada mais é do que um manual, semi-automatizado, com uma única embreagem. Já ouvi de muitos amigos que conhecem bem Lambos que essa caixa é notória por seus trancos nas trocas de marcha. Alguns dizem que isso está em linha com o radicalismo que a Lamborghini quer passar. Na minha opinião, é sinônimo de ineficiência. Você nota que o carro perde momento nas trocas de marcha. O nariz afunda e o tranco vem daquela forma pois o sistema, por falta de melhor palavra, é lerdo.

Se você já experimentou qualquer caixa de dupla embreagem disponível no mercado, seja em um Audi, BMW, Porsche, Mercedes, Nissan GTR ou Ferrari, tenha certeza que o câmbio nesses carros está anos luz na frente do sistema E-gear da Lamborghini.

Superada essa característica do câmbio, passo a observar as demais aptidões da Performante. Como um carro semi-pista, eu esperava que ela fosse ser telepática nas respostas de direção e que o chassi do carro estivesse em simbiose com meus comandos. Não foi o caso também. Não me entendam errado. Eu sei que conversíveis não tem a mesma rigidez torcional das variantes coupés, mas para um carro que se propõe a ser um devorador de autódromos, a resposta do conjunto direção e chassi estava mais para um carro GT do que um V10 com motor central.

A direção tem um certo “lag” entre o comando do motorista e a resposta do chassi do carro. Além disso, em vários momentos eu não sentia a estrada como senti a bordo da 458. Havia uma sensação muito artificial do que estava se passando debaixo do carro. Em curvas de alta, parecia que o carro estava com pneus run-flat, passando aquela sensação de que os pneus eram feitos de “plástico duro”, e não de boa e velha borracha!


A resposta do acelerador é no padrão da categoria no modo corsa, ou seja, respostas imediatas. Por outro lado, os freios não são exatamente o que eu chamaria de comunicativos. Grande parte disso se deve ao conjunto de carbo-cerâmica, que funcionam perfeitamente em temperaturas altíssimas, como em autódromo, mas, ali, na estrada, era esquisito subir no freio e… nada… nada… de repente, o carro estancava com força.

A sensação de força do carro, por outro lado, deixa um pouco a desejar. O carro explora com muito vigor a banda de rpms, mas não com a mesma explosividade que a Ferrari 458. Após ter dirigido muitos carros desse tipo, eu coloco a Performante com a sensação de força abaixo do Porsche 911 Turbo, do Nissan GTR, da Ferrari 458 e da Mercedes SLS. Lembra muito um Audi R8 V10 com um pouco mais de vigor.


POR DENTRO DA PERFORMANTE


Realmente, está na hora da Lamborghini começar a se mexer para lançar a sucessora da Gallardo e as milhares de suas variantes. Tirando ou pondo alguns opcionais, tipos de tração e motor com um pouco mais de cavalaria e torque, a Performante não nega que ela é apenas uma versão atualizada da mesma Gallardo lançada em meados de 2003.

No interior isso fica evidente! Notem, a Lamborghini é uma marca do grupo Volkswagen, mais especificamente situada abaixo da Audi, portanto, nada mais natural que exista um grande compartilhamento de peças entre os carros de ambas as marcas. A influência da marca de Ingolstadt é evidente em todos os cantos da Performante. Sim, há peças únicas e exclusivas do touro, mas computador de bordo, interruptores, botões, GPS e central de multimídia são claramente da Audi.


Agora, não pense que são peças dos Audis mais modernos. Pelo contrário, são peças de acabamento notadamente dos modelos Audi até 2008. A coloração avermelhada do odômetro, da iluminação interna da cabine etc. deixa isso bem claro.

Daí até dizer que é um carro mal acabado seria um longo pulo, mas, curiosamente, tanto a Ferrari 458, como a Performante, testadas no mesmo dia estão com a mesma km rodada (cerca de 60 mil km) e são 2010. A Ferrari não apresenta metade dos sinais de idade que a Performante deixa evidente.


Obviamente, no interior da Performante você será imerso em um orgia de fibra de carbono e alcântara, mas, para um carro dessa estirpe, não consigo esconder que eu esperava muito mais.


CONCLUSÃO

 
Se você leu até aqui deve estar convencido que eu achei a Performante um carro ruim. Na realidade, não é bem isso. O problema não está no carro em si, mas na concorrência. A Lamborghini parou no tempo com o Gallardo, um carro originalmente lançado para brigar com a antiga Ferrari F430. Pois é, a Ferrari já aposentou esse modelo e a atual 458 já está quase no meio de seu ciclo de vida. Enquanto isso, a Lamborghini tenta dar vida ao mesmo projeto de quase 10 anos atrás.
Nesse ínterim, vimos surgir concorrência de marcas como a Mercedes com o SLS e da Audi com o R8. Sem contar o mítico Nissan GTR e o Porsche 911 Turbo, que são sobrealimentados, ao passo que a Ferrari criou um divisor de águas com a 458, comparativamente aos modelos que a precederam. 
 
A Performante é um carro bom. Excelente se comparada as Gallardos que foram lançadas até hoje. Não deixa de ser um carro com visual lindo e capaz de parar o movimento de ruas por onde passa. O V10 ronca agressivamente e o carro é pura e simplesmente radical. Agora, carro por carro? Eu acredito que há opções tecnicamente superiores pelo mesmo preço, (Ferrari 458), assim como pela metade do preço (Audi R8 V10 Plus recém lançado, que agora vem com câmbio de dupla embreagem e 550 Hp).
 
Estaria mentindo se falasse que não me diverti! Toda experiência desse tipo para qualquer tipo de apaixonado por carro é incrível. Agora, se tivesse recursos e condições para comprar um carro desses… continuaria a alugar um Lamborghini de vez em quando e gastaria meu dinheiro para conviver todos os dias com outro carro esportivo. 
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3 comentários sobre “LAMBORGHINI LP 570-4 PERFORMANTE

  1. Muito boa a avaliação Korn, eu quando dirigi uma Superleggera senti essa mesma sensação de um carro “solto” não tão comunicativo, no freio principalmente não senti tanta confiança pra pisar, fiquei com bastante medo do carro, dirigi o carro em uma pista, nas saídas de curva pisando e logo em seguida trocando a marcha os trancos do cambio davam uma instabilidade tremenda no carro… E logo depois da reta tinha uma curva bem fechada, se viesse com o carro cheio tinha que abusar dos freios, e teve uma volta que eu levei um leve susto com uma bambeada do carro e achando que fosse passar reto. Mas é um carro sensacional, são coisas que você ama odiar ou não… Gostei muito do blog, abraço!

  2. Muito boa a avaliação Korn, eu quando dirigi uma Superleggera senti essa mesma sensação de um carro “solto” não tão comunicativo, no freio principalmente não senti tanta confiança pra pisar, fiquei com bastante medo do carro, dirigi o carro em uma pista, nas saídas de curva pisando e logo em seguida trocando a marcha os trancos do cambio davam uma instabilidade tremenda no carro… E logo depois da reta tinha uma curva bem fechada, se viesse com o carro cheio tinha que abusar dos freios, e teve uma volta que eu levei um leve susto com uma bambeada do carro e achando que fosse passar reto. Mas é um carro sensacional, são coisas que você ama odiar ou não… Gostei muito do blog, abraço!

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