BMW M5 E39 – A MELHOR DEFINIÇÃO DO BMW M5?

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Graças a um grande amigo, tive a oportunidade de dirigir um BMW M5 E39, aquele que era lendariamente apelidado de “beast” no m5board.com no começo dos anos 2000.

Minha experiência com esse carro já era remota nas minhas memórias. Nada como revisitar um carro que marcou muito a minha infância.

A plataforma E39 do BMW série 5 foi fabricada entre 1996 e 2003, tendo sido substituída pela geração E60. O emblema M5 significa o máximo de esportividade na base do modelo.

À época do seu lançamento, o BMW série 5 E39 era considerado tão acertado dinamicamente que a própria montadora relutou em introduzir a variante M. Apesar do lançamento das variantes normais em 1996, o mercado só veria o M5 em 1999 praticamente.

Dessa vez a BMW optou por equipar o modelo mais esportivo do série 5 com um motor 4.9 V8, que rendia humildes 400 cvs e 49 Kgfm de torque. Pode não parecer muito para os dias de hoje, mas em 1999, era suficiente para dar conta dos carros mais esportivos. O 0 a 100 km/h ocorria em cerca de 5 segundos. Nada mal para um sedã com 1826 Kgs.

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A única opção era um câmbio manual de 6 marchas. Em termos de desempenho mesmo, o brilho do M5 vinha quando as velocidades ultrapassavam os três digitos. Não foram poucas as Ferraris F355 e Modenas ou Porsches 911 Carrera que foram vítimas do monstro luxuoso bávaro.

Mesmo assim, por mais impressionado que eu fique com as histórias de um tempo longíquo, eu acho que não dá para mensurar um carro como o M5 E39 apenas com base em desempenho. O conceito chave aqui é “experiência”, a forma como carros dessa era fazem você se sentir.

Foi durante essa época que eu acredito que vimos os últimos gritos de mecânica pura automotiva. Onde a eletrônica ainda era um ator coadjuvante do desempenho, e não o principal fator. Uns torcem o nariz, outros arriscam dizer que esses carros são mancos. Na minha singela opinião, se você quer saber o que é dirigir um carro ou sentí-lo, você obrigatoriamente tem que dirigir carros da década de 90 e começo dos anos 2000.

Vamos ao M5 E39!

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POR DENTRO DO BMW M5 E39

Como manda o figurino para o modelo, dentro da cabine você tem o melhor que a BMW poderia oferecer para um série 5, mas, exceção feita ao cluster ali na frente do volante, que indica 300 Km/h e alguns adereços ///M, você não tem muitos outros pontos que denunciam a personalidade esportiva do carro.

Você percebe notadamente que é uma cabine com mais “porta-trecos” do que em uma série 3. Os bancos do carro são de couro de excepcional qualidade, daquele tipo que faz você olhar para o de uma atual série 5 e sentir um pouco mais do que apenas nostalgia. Os botões, materiais e interruptores internos claramente dão a conotação de que a BMW claramente tinha intenção de que o M5 continuasse a manter sua qualidade de construção por décadas a fio.

Esse carro em específico que estou examinando pertence a um amigão que tem alguns transtornos compulsivos com o objetivo de ter um M5 E39 mais próximo de zero km, então, obviamente, não há como negar que o estado de conservação interno do carro merece um elogio ao dono também.

O que eu gosto do interior do série 5 E39 como um todo é como o ambiente consegue ser espaçoso e adequado para 5 ocupantes com conforto. Toda vez que eu entro num carro desses, eu não consigo deixar de notar como o espaço interno e ergonomia são simplesmente perfeitos para uma proposta de sedã médio-grande. É na medida certa. Se você entrar em um atual série 5, você não notará um incremento de espaço interno que justique o tamanho externo. No E39, tudo é na proporção perfeita para a proposta do carro – será que realmente precisamos de carros maiores?

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A TOCADA DO M5 E39

Antes de entrar no carro, eu fiquei examinando por fora aquele que foi um dos meus maiores mitos automotivos de infância. É realmente a proposta do BMW M5 – “lobo em pele de cordeiro”. Você presta atenção aos detalhes e nota que há pequenos sinais distintivos que evidenciam algo além de um 540i. As clássicas ponteiras de escapamento na traseira, as rodas esportivas e os arcos das caixas de roda impõem um ar sutilmente mais musculoso, mas não é fácil identificar se você não sabe do que se trata um BMW M5.

Começamos a andar com meu amigo conduzindo e me explicando um pouco sobre o carro e tudo que ele fez. A ignição notadamente é o primeiro sinal que denuncia a filosofia não tão comportada do sedã. Obviamente, o carro está sem abafadores e com isso o V8 vem a vida como um carro esportivo da melhor espécie.

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Óleo de motor na temperatura certa, trocamos de posição e fui dirigir o lendário M5 E39.

Eu sempre fui um “M3 kind of guy“, apesar de admirar demais o sedã M5, então, não tem como não comparar os dois esportivos M da época. A primeira coisa que você nota é que todos os comandos de tocada são mais leves no M5. A direção não é tão grossa na pegada e também é razoavelmente mais leve que a do irmão mais esportivo. Tudo bem, considerada a proposta do M5.

Os engates de marcha, no entanto, são um salto e tanto em qualidade comparativamente ao modelo original, que é conhecido por ter um dos movimentos mais longos para câmbio manual já visto em carro esportivo. O short shifter é um toque pessoal que, a meu ver, faz toda a diferença.

Trafegamos em uma estrada e aqui eu pude ver do que o M5 E39 é capaz e o que querem dizer quando ele tem “torque”. Se você colocar o S54 6 cilindros do M3 E46 na equação, por mais elástico que ele seja, em marchas mais altas, ficar abaixo dos 3500 rpms pode ser enervante. Em estradas, você está constantemente reduzindo para uma marcha mais baixa. No M5, isso não é necessário. Não importa quão alta seja a marcha em que você esteja, o torque do V8 está lá para empurrar. Isso, a meu ver, é o maior benefício desse powertrain.

O carro ganha velocidade com aquele frieza assassina germânica e você não sente muito o que está acontecendo. Por outro lado, em um aspecto mais emocional de tocada, o S54 do M3 E46 é um motor mais divertido, especialmente trafegando pendurado acima dos 5500 rpms. O V8 do M5 gira menos e corta ali nos 7000 rpms. A entrega de performance é extremamente linear, não há aquele momento onde “as coisas começam a acontecer”.

Agora, o que mais impressiona nesse carro, que está com a suspensão nova e amortecedores Koni ajustáveis, é o quanto o M5 se comporta como um carro muito menor e mais dinâmico nas mudanças de direção. Esse é daqueles carros que neste set up serve a um intuito “trollador” muito específico. Se você colocar 5 pessoas dentro do carro e começar a andar forte, duvido que qualquer passageiro poderia prever o que estaria por vir.

É engraçado. Na minha opinião, depois de ter dirigido uma dose considerável de carros nessa vida, confesso que o BMW M5 é o sedã esportivo de tocada mais incrível que já experimentei. NOTEM QUE NÃO O ESTOU CHAMANDO DE MAIS RÁPIDO, mesmo porque, para os padrões de hoje, 400 cvs e 50 Kgfm não dizem muita coisa e certamente há sedãs mais velozes, mas, repito, nenhum deles entrega a tocada que o BMW M5 E39 pode entregar.

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Ali no pé, cambiando as marchas, você é imerso numa experiência “mecânica pura” e ainda sente o que se passa com os quatro cantos do carro sob as mais variadas circunstâncias, sentimento esse hoje praticamente inexistente. Hoje em dia, qualquer um em um trecho decente de estrada a bordo de um M5 F10 certamente consegue andar a 300 Km/h, mas o M5 E39 é daqueles que vão demandar foco e atenção o tempo inteiro. Não porque é perigoso, nada disso, mas sim pelo fato de que é uma experiência analógica.

Tem muitas coisas perfeitas para a proposta de um sedã esportivo no BMW M5 E39. Isso quer dizer que ele é perfeito? Não. Para mim, apesar do torque excepcional do V8, eu ainda acho que ele não tem tanto carisma e personalidade como os 6 cilindros que o precederam ou como o V10 que o sucedeu.

CONCLUSÃO

Aquele clássico embate entre qual é o melhor M5 de todos os tempos é uma das discussões mais complexas que já enfrentei como entusiasta automotivo e fã de BMW Motorsport. Não adianta eu tentar explicar, eu simplesmente amo esses carros.

Se eu tivesse que situar o M5 E39, eu diria que o acho o mais bonito de todos, embora tenha um coração mole pela E34. Em termos de desempenho, é um carro com uma tocada invejável. Ele parece mais dinâmico e acertado que o M5 E60, que parece e é maior (além de mais pesado), mas o motor V10 do modelo que o sucedeu é, para mim, um dos motores mais sensacionais já colocados em um carro de rua. A realidade é que se não fosse por aquele V10 girando 8250 rpms, não haveria discussão comparativa com o E39. A questão é que acima dos 5 mil rpms, você esquece que o V10 pode quebrar sua conta bancária e quão antiquado ele é para qualquer proposta que não seja andar agressivamente.

Nesse sentido, acredito que o M5 F10 e o seu V8 bi-turbo são muito mais uma evolução do E39 do que do E60. No M5 F10, o visual volta a ser mais sutil, a usina de força volta a ser um V8, apesar das turbinas, mas a forma como tudo acontece é muito parecida, apenas com muito mais força do que no E39. Porém, toda essa força do atual M5 se traduz em um carro que depende de muita eletrônica para performar, o que acaba isolando você da equação de tocada. Por outro lado, o M5 E39 tem exatamente aquela dose de performance para o conjunto que é suficiente para ainda manter o motorista como parte da estória toda. Você consegue fazer coisas um M5 E39 que lhe matariam a bordo do atual F10.

Se você examinar cuidadosamente tudo o que o BMW M5 deveria significar em sua acepção original, talvez, o BMW M5 E39 seja a melhor definição disso tudo – tocada, câmbio manual, tração traseira, dimensões adequadas e proporcionais, que permitem ao motorista interagir com todas as personalidades do carro. A meu ver, o maior pecado é o motor tão linear de desempenho, mas que, por outro lado, esbanja torque de baixa (em um nível que uma M5 E60 e seu mítico V10 podem apenas sonhar).

Um bônus bacana de ter um M5 E39 aqui no Brasil é também a exclusividade. Apenas 20 e poucos carros vieram ao Brasil. Muitos já viram o cemitério automotivo e outros foram muito negligenciados na manutenção. Até que seja possível importar esses carros em 2029, ver e ter a oportunidade dirigir um carro desses será sempre um privilégio!

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Um comentário sobre “BMW M5 E39 – A MELHOR DEFINIÇÃO DO BMW M5?

  1. É impressionante como após mais de uma década, as E39 ainda povoam os sonhos e vontades de muitos.

    E quando acrescemos a isto uma única letra, torna-se um verdadeiro ícone!.

    Pena que, por aqui. em terra brasilis, cada vez mais raras são as M da virada da década 90/00 que ainda honram a letra M que carregam, e as que a honram, tem o preço cada vez mais proibitivo.

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