Não é todo dia que você tem a oportunidade de dirigir um clássico da indústria automotiva. A convite de um grande amigo para gravarmos um programa do Amigos Por Carros, tivémos a oportunidade de testar a fundo a Mercedes 190E 2.3 16v, conhecida como “Cossie”.
Por que esse apelido?!
A história é longa, mas para encurtá-la de maneira a não perder o foco no carro, vou resumí-la. No final da década de 70, a Mercedes começou a flertar com a ideia de competir no campeonato mundial da Rally, o WRC, porém, nessa mesma época, a Audi mudou o mundo dessa competição ao introduzir seu coupé equipado com tração integral – eis que surgia a tração Quattro e todos nós sabemos que nunca mais vimos carros de Rally equipados com tração traseira.
A Mercedes desistiu de comprar essa briga, pois o seu projeto era tração traseira, e resolveu que iria aventurar-se no mundo do DTM alemão. A questão é que para poder entrar na categoria seria necessário construir um modelo de rua para homologação do carro de competição. A Mercedes recorreu a uma preparadora britânica, chamada de Cosworth.
A Cosworth pegou o bloco quatro cilindros aspirado da Benz e o retrabalhou. Em especial, o cabeçote é completamente desenvolvido pela empresa britânica. O resultado é que o 2.3 16V aspiradinho passou a render saudáveis 185 Hp a 6200 rpms e 24 Kgfm de torque a 4500 rpms. A versão americana rendia um pouco menos, com 167 Hp a 5800 rpms e 22,3 Kgfm a 4750 rpm, graças a uma taxa de compressão inferior. Além dessas diferenças, a versão americana vinha com mais amenidades internas, como ajustes eletrônicos de bancos.
O carro foi lançado no salão de Frankfurt em 1983. Em 1984, para celebrar o novo traçado do circuito de Nurburgring, foi organizada uma corrida monomarca e foram convidados pilotos renomados do mundo inteiro. À época, Emerson Fittipaldi não podia comparecer e convidaram um “novato” para substituí-lo. Esse cara era Ayrton Senna. Todos equipados com Cossies idênticas e Senna simplesmente dominou a corrida, chegando à frente, inclusive, de Niki Lauda.
Originalmente, a Cossie foi lançada em duas cores: preta e prata. Em 1988, a Cossie virou 2.5 e passou a render na versão europeia 195 Hp com catalisadores e 205 Hp sem. Novas cores chegaram, em especial a vermelha.
Durante a sua vida, a Cossie poderia ser equipada com o câmbio manual de 5 marchas da Getrag ou automático de 4 marchas. Traço distinto e único da Cossie manual é sua primeira marcha no melhor estilo dog leg, engatada para esquerda e para baixo. Essa mesma caixa de marchas manual foi a escolhida pela BMW para equipar o seu BMW M3 E30. Se críticas não faltavam quanto à ligeira dificuldade de engatar as marchas na Cossie, a BMW ajustaria a posição do câmbio para a clássica e seria altamente elogiada pela fluidez das trocas.
Aliás, não podemos nos esquecer que o principal rival declarado da 190E 2.3 16V é a BMW M3 E30. Como manda o figurino clássico do duelo entre as duas montadoras, a BMW fez questão de fazer na mesma base quatro cilindros aspirado um motor com o mesmo tamanho, mas que rendia marginalmente mais em termos de potência e torque. Se a proposta era ser um carro esportivo, a BMW fez questão de tornar a M3 ainda mais afiada que a Benz. Essa rivalidade, obviamente, não ficou no modelo de rua apenas e a BMW simplesmente dominou o DTM.
Isso faz da Cossie um carro pior que a M3? Não! Sonoramente não! É razoavelmente diferente!
POR DENTRO DA 190E 2.3 16V
Antes mesmo de dar a partida, logo ao entrar na cabine, você tem uma visão geral de como os carros mudaram nos últimos 30 anos.
Na minha opinião, a posição de dirigir dos carros esportivos modernos evoluiu bastante para o estágio onde está em meados dos anos 90. Os motoristas passaram a sentar mais baixo no carro, as portas passaram a ficar em uma posição mais alta, mais ou menos um pouco abaixo dos ocupantes. As direções de esportivos modernos tem regulagem de altura e profundidade. De fato, encontrar a posição de dirigir em um esportivo moderno, via de regra, deixou de ser uma aventura.
Para mim, que tenho 1,87 metro, a posição de dirigir a bordo da 190E não é nada adequada. O banco não tem ajuste de altura. O volante é fixo em profundidade. Na posição que melhor me acomodou, eu não conseguia enxergar o topo do conta giros do lado direito dos instrumentos. Para não atrapalhar meu movimentos na direção, eu fui obrigado a andar com as penas mais abertas e isso me atrapalhava um pouco no manuseio do câmbio. Sob essa perspectiva, confesso que o dog leg para o engate na primeira marcha fez muito sentido.
Ignição dada. A primeira impressão é que não se trata de um singelo quatro cilindros vindo à vida, mas sim, algo claramente com um toque mais agressivo. A embreagem é um pouco mais pesada que em um carro de passeio comum. A direção (enorme, diga-se passagem), tem uma pegada fina e é leve. Manobrá-la não requer muito esforço, exceção feita ao acelerador, que requer um pouco mais de firmeza.
A ré engatada com um puxão para cima e é situada onde originalemente seria a primeira marcha em um carro comum.
No começo, você não tem como não estranhar um pouco. Primeiro, a questão do bug mental com os engates da caixa manual invertida. Depois, pela própria posição de dirigir. Porém, logo depois que você se acostuma, a magia começa a acontecer.
O motor requer giro… e como! Quando você ultrapassa um pouco os 4000 rpms, a Cossie acorda e mostra a que veio. É uma tocada bem velha guarda. Sem a ajuda de comandos de válvulas variáveis modernos. Você entra em uma curva em uma marcha mais alta e pode ter certeza que se os giros caírem consideralvemente, não haverá torque algum ali.
A cavalaria e o torque, no papel, não parecem sugerir muito, mas a bordo da 190E, você começa a entender algumas coisas sobre automóvel esportivo mais antigo. Em primeiro lugar, após algumas curvas e puxadas, você se sente em completo controle da máquina. Não há controle de tração ou estabilidade para lhe ajudar, porém, em nenhum momento você sentirá falta desse tipo de assistência.
Conduzimos o teste durante a chuva e a todo instante eu conseguia sentir o carro como um todo – fosse por meio da direção, volante ou pedais. Sabia exatamente como o carro se situava na via. Com o passar do tempo, fui criando mais intimidade com a Cossie, a ponto de flertar com algumas traseiradas.
Tudo ocorre de maneira linear e extremamente previsível. Você quer manter-se no traçado? É fácil. Você quer brincar um pouco? Mais ainda.
Realmente, não é uma questão de ser ferozmente rápido, é uma questão de se sentir parte da equação de direção. Esse é o tipo de carro que não demanda que você ande a mais de 200 km/h para se divertir. É um carro que tem uma dose de entretenimento plenamente acessível. Sem sustos.
A suspensão é um pouco mais rígida do que eu esperava. É realmente bem dura, em especial o eixo traseiro. Porém, temos que dar um desconto nesse aspecto, afinal, o carro tem pouco mais de 3 décadas de vida e muita coisa ainda será substituída.
CONCLUSÃO
A 190E 2.3 16V é um clássico. De fato, o conjunto do carro não é tão afiado ou esportivo como o da M3 E30, sua principal concorrente, mas é um carro que se mostra mais versátil e utilizável que o BMW.
Colocando em perspectiva, é um carro legitimamente simples. Compará-lo em termos de performance a qualquer carro moderno, seria um pecado. Porém, em termos de compreender a “arte de dirigir”, a Cossie é um evento. É completamente na mão e dócil. Você não precisa ir estupidamente rápido para dar risada a bordo do carro.
Sem dúvidas é um automóvel que carimbou se passaporte como um carro que será eternamente um clássico. O melhor é que o 190E ainda não é um carro que explodiu de preço.
Todos entusiastas, aqueles que realmente gostam de carros, são estudiosos, deveriam passar um tempo dirigindo uma Cossie. Agora, não é um carro que eu tentaria convencer da genialidade para meus amigos que são fanáticos por desempenho e performance. Para esses, provavelmente a 190E passaria como um carro velho e manco.
Para quem aprecia o estilo entusiasta, dirigir a Cossie é uma coisa que precisa ser feita antes de morrer.
Korn, já acompanho o amigos por carro há um tempo e por acaso, pesquisando sobre a 190e, encontrei sua matéria. Muito boa por sinal!
Quero deixar aqui uma observação: Estou escrevendo aqui um pouco tonto, com a vista um pouco embaralhada. Acredito que isto se deu pelas cores utilizadas. Fica muito bonito o fundo preto com letras brancas, mas não é nada agradável de se ler.
Abraço e mais uma vez, parabéns pela matéria!