A história nos ensina a nunca duvidar da capacidade da Porsche em lançar produtos inovadores, mesmo que eles contrariem a proposta do mítico 911.
Foi assim com a Cayenne em 2002, ao lançar o SUV que simplesmente redefiniu o conceito desse tipo de veículo. Em 2005, colocaram um teto rígido no Boxster, criando aquele que talvez seja o esportivo mais bem equilibrado da marca. Por volta de 2009, a marca introduziu um sedã de alto luxo Panamera capaz de peitar qualquer concorrente no segmento.
A Porsche sabia muito bem o que fazia quando lançou o Porsche Macan em 2014. Um SUV ou SAV, menor que o Cayenne, com entre eixos mais curto, centro de gravidade mais baixo e com mais enfoque na experiência de direção do que na praticidade do irmão maior e mais familiar.
Atualmente, a última peça do quebra cabeça na série de modelos da Macan era a versão GTS. Lançado no segundo semestre de 2015 e com estreia planejada para até julho de 2016 aqui no Brasil, o carro situa-se entre a versão S e Turbo do Macan.
A proposta GTS sempre foi ser algo a mais do que uma versão bem recheada de opcionais da variante S. A Porsche gosta de brincar com a calibragem de suspensão, pedais e câmbio nesses modelos. A “tocada” da GTS costuma ser bem mais focada. Será que isso continua verdade com o Macan?
O Amigos por Carros foi à Flórida, no EUA, conferir do que o Porsche Macan GTS é capaz a convite da Porsche da America Latina (fica um agradecimento especial aos esforços do time aqui no Brasil em viabilizar a experiência).
O PORSCHE MACAN GTS
No quesito motorização, o Macan GTS continua utilizando o mesmo 3.0, V6, biturbo. A diferença é que aqui esse conjunto rende 360 cvs a 6000 rpms e 500 NM de torque entre 1640 e 4000 rpms. São 20 cvs e 5 NM de torque a mais do que o modelo S e 40 cvs e 5 NM de torque a menos do que a Macan Turbo.
A Porsche declara que o Macan GTS vai de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos e tem a máxima de 256 Km/h. Novamente, ao olhar a ficha técnica dos modelos da gama oferecida, o Macan GTS está exatamente situada entre os modelos S e Turbo.
O câmbio é o famoso PDK de dupla embreagem com sete marchas. Na minha opinião, um avanço fenomenal em termos de experiência comparativamente à caixa automática encontrada no Cayenne.
O carro que testamos era simplesmente completo, como manda o figurino GTS – sport chrono pack, com controle de largada e sport plus disponível. Porsche Torque Vectoring também estava lá, tecnologia capaz de gerenciar o torque entre as quatro rodas, conforme necessidade de aderência.
A PSM, a central de multimídia da marca, em sua mais nova versão, é simplesmente uma aula de ergonomia, em especial devido ao Apple Car Play, que permite espelhar o seu iPhone diretamente, facilitando a vida.
A única coisa esquisita de um carro tão completo como o Macan GTS é que o ajuste da coluna de direção em altura e profundidade era manual, e não eletrônico. Menção honrosa também à ausência de alcântara no teto. Não custaria nada (ou melhor, custaria) oferecer o carro completamente acabado nesse material, sem cobrar o extra como “opcional”.
A cabine do Macan não tem a mesma amplitude e sensação de espaço que vemos dentro do Cayenne. Nem poderia. Na realidade, é um carro que leva com conforto quatro ocupantes. É evidente que o Macan não tem a pretensa utilidade do irmão maior. Não que isso seja um ponto negativo, pelo contrário, mas será necessário levar isso em conta na proposta do carro e no que o potencial comprador pretende.
Agora, se o que você busca é um carro mais alto, com razoável espaço interno e que seja capaz de entreter atrás do volante, o Macan começa a ficar interessante, mesmo antes de você dar a partida.
A TOCADA DO PORSCHE MACAN GTS
Logo ao entrar no Macan GTS você já nota que há uma subjacente pretensão esportiva. A posição de dirigir é mais baixa do que no Cayenne. Ignição dada do lado esquerdo, como manda o figurino Porsche, e há uma certa personalidade na forma como o conjunto vem a vida. Há um timbre mais encorpado e esportivo do que aquele visto na variante S. Arrisco dizer até mais carisma do que na Turbo.
Ajustes feitos e começamos a andar com o carro. Mesmo sem acionar o modo sport ou sport plus, o Macan GTS já entrega um pouco da sua persona. Trafegando normalmente, a primeira impressão é que se está a bordo de um carro, e não um utilitário.
No modo mais ordinário de condução, é interessante ver o quanto a Porsche evoluiu em suas calibragens de condução. Os primeiros 911 com PDK eram meio letárgicos nessa situação, como se convidassem os motoristas a imeditamente a escolherem os modos mais agressivos de pilotagem. O acelerador e câmbio conseguem entender melhor os motoristas. No Macan GTS, as respostas são progressivas. Honestamente, para 90% daqueles que comprarem o carro, mesmo no modo mais civilizado, já é prazeiroso de dirigir. Já teria encerrado a análise muito satisfeito por aqui, mas ainda faltava ver do que seria capaz nos modos mais esportivos.
Assim como em todos os Porsches com o sistema PDK e sport chrono package, o ideal para conduzir em vias públicas com uma certa emoção é o modo Sport. Com ele selecionado, o acelerador fica com respostas mais diretas, a PASM (controle de tração e estabilidade) fica em um primeiro estágio de esportividade e o escape abre a válvula. O PDK fica com respostas mais rápidas. Interessante mesmo. O carro entrega uma tocada excepcional. Você se recusa a acreditar que o Macan GTS é um carro que está na categoria de SUV ou SAV.
Agora, eu não estava preparado para ser tão surpreendido positivamente com a tocada do Macan GTS ao pressionar o botão Sport Plus. Nesse estágio, tanto o acelerador, quanto o PDK, ficam em seu modo mais agressivo, sempre na melhor condição possível para fruir dos 360 cvs e dos 500 NM de torque. O PASM fica em sua configuração mais esportiva, subindo mais um estágio na escala.
O que se seguiu a partir daí foi uma experiência incrédula. A rolagem de carroceria do Macan GTS eliminou qualquer resquício que se esperaria de um utilitário e o carro passou a se comportar de uma maneira que faria alguns hot hatches serem antiquados. Aonde eu quisesse apontar o Macan GTS ele obedecia. O PDK é simplesmente sublime no modo Sport Plus tamanha a velocidade das trocas. Brincar com as borboletas atrás do volante é algo muito bacana, pois a interatividade é umas das melhores que eu já vi.
Você ainda sente que o Macan GTS é um carrinho pesado, pois não há tecnologia que esconda o fato das quase 2 toneladas de peso do modelo, mas, ainda assim, as calibragens de suspensão e direção compensam de uma maneira absurda a massa elevada. Em nenhum momento eu acreditava estar em um carro com um centro de gravidade mais elevado do que o comum.
O PTV trabalha de uma maneira extremamente eficiente. Você entra em uma curva um pouco mais fechada e acelera com agressividade, tentando estragar o equilíbrio do Macan GTS e, ao examinar o leitor do PTV no painel, percebe a distribuição de torque.
É um nível de resposta e tocada sem precedentes para um carro desse tipo. Não é apenas bom para um SUV ou SAV. O Macan GTS entrega tanto em termos de tocada que arrisco dizer que é um daqueles carros que lhe fariam acordar mais cedo nos finais de semana para pegar uma serra e simplesmente dirigí-lo pelo puro prazer.
Depois de algum tempo resolvi experimentar o controle de largada: sport plus ainda selecionado, basta pressinar o pedal do freio e acelerar até o kick down. Assim que o farol abre, solto o freio e o Macan GTS dispara com uma intensidade que eu jamais poderia imaginar.
Quer dizer então que o Macan GTS é um carro perfeito? Não!
A meu ver, o Macan GTS sofre do que eu gosto de chamar na marca do “mal do irmão menor”. Assim como o Cayman, que por anos se viu limitado a um motor menor e menos potente que o 911, o Macan poderia ser um carro com mais força que o Cayenne. No caso do Macan é ainda mais evidente que a proposta dele não se confunde com a do irmão maior. O fato é que sobra muito conjunto para o Macan GTS.
Não há como negar que o motor perde um pouco de fôlego acima dos 5000 rpms. Se você mantiver o Macan GTS dentro da faixa ótima de torque, é excepcional. A engenharia da marca é excepcional nesse sentido. Você reluta em encontrar o turbo lag no Macan GTS. Até os 4000 rpms, o carro parece que vai vir numa espiral crescente, mas, logo após, você nota uma ligeira a “apagada”. Essa talvez seja a minha única crítica ao Macan GTS.
CONCLUSÃO
Será que seria demais concluir que tirando o Boxster, Cayman e 911, o Macan é o carro que melhor veste a roupagem esportiva da Porsche?! Na minha opinião, sim. Especialmente na variante GTS, o Macan é brilhante.
Existem Cayennes e Panameras mais rápidas em linha reta sem sombra de dúvidas. Aliás, mesmo uma Cayenne S com o motor V8 aspirado parece ter mais fôlego de alta. Agora, se você mantiver o Macan GTS na sua zona ótima de performance (leia-se: até os 5000 rpms), você vai se surpreender positivamente. Se o trajeto combinar umas curvas bem sinuosas, o nível de experiência a bordo do Macan GTS é muito superior em termos esportivos do que o do Panamera e do Cayenne.
O Macan GTS é um carro preciso e direto. Se você é daqueles que sempre quis ter um Porsche, mas que devido a outras razões a ideia de colocar um Boxster, Cayman ou 911 na garagem sempre pareceu um ultraje, acredito que algo como Macan GTS será o mais próximo disso. É brilhante mesmo.
Tenho certeza que uma preparação leve em cima do Macan GTS tem o potencial de transformá-lo em uma das melhores propostas de “o carro para todas as ocasiões”.
Belo texto! Gosto bastante do Macan e cogitaria ter um antes do Cayenne. Só algumas correções: PASM = gerenciamento de suspensão da Porsche; PSM = gerenciamento de estabilidade da Porsche; PCM = central multimídia. Fizeram uma pequena confusão com os nomes