Há muito tempo que os “pequenos” esportivos das marcas europeias deixaram de ter potência e torque condizente com a sua categoria automotiva. Hoje em dia, um BMW M235i possui 326 Hps, um Mercedes AMG A45 rende 380 Hp (em cima de um bloco 2.0 4 cilindros). Colocando em perspectiva, isso é mais força do que muitos esportivos da década passada.
Motores menores e sobrealimentados em pacotes menores e mais leves. Isso quer dizer que esses esportivos de entrada das marcas são legítimos carros esportivos que, devido à equação peso X potência, remontam de maneira saudosista os antigos esportivos? Não. Muito pelo contrário.
Por mais rápidos que sejam, não há como negar que há um esforço tremendo para que esses monstrinhos desempenhem com segurança. É natural uma certa sensação de artificialidade. Não que isso seja ruim. Coloquemos em perspectiva: se você se sentar para pilotar um carro em um simulador, a experiência pode ser muito legal, mas talvez não tenha aquele senso de “realidade” que se tem a bordo de um carro de verdade.
Algumas marcas realmente se empenham em criar carros que sejam bons em entreter, apesar de toda a tecnologia embarcada. Tanto a Mercedes, como a BMW, fizeram trabalhos bacanas. Isso me traz a esse review sobre o Audi S3 sedã 2015. Se eu tivesse dirigido o modelo apenas por alguns breves quilometros, como é a prática nos test-drives de concessionárias, talvez chegasse a uma conclusão equivocada sobre o modelo.
O AUDI S3 SEDÃ
Um pouco mais de mais do mesmo. O motor é o já conhecido e venerado 2.0 Turbo com injeção direta de combustível. O resultado são 286 cvs entre 5500 e 6200 rpms e 380 NM entre 1800 e 5000 rpms. Câmbio de dupla embreagem S-tronic de 6 marchas. Tração integral Quattro (Haldex). 0 a 100 km/h em 4,9 segundos. Velocidade máxima de 250 Km/h. Tudo isso em cima de um conjunto que pesa 1460 Kgs.
No papel, o quesito desempenho é mais do que satisfatório.
Por dentro, o acabamento e refino da Audi são excepcionais. Na minha opinião, acima do que BMW e Mercedes podem oferecer hoje em seus esportivos de entrada.
Por meio da central no meio do painel, que entra e se aloja dentro painel, sem ser algo meio que “improvisado”, você consegue regular o carro todo, inclusive os modos de condução (Audi Drive Select), que são cinco: Efficiency, Comfort, Auto, Dynamic e Individual. Entre os quatro primeiros modos, o carro oscila de um modelo eco amigável a um um assino de focas.
No Individual, você configura aquilo que mais lhe agrada entre respostas de acelerador, controles de estabilidade e tração, velocidade do câmbio e resposta de direção. É basicamente o mesmo sistema que já vimos no Audi A3 sedã.
A cabine oferece uma certa dignidade para quatro ocupantes. Os bancos traseiros não foram feitos apenas para anões. Há também um porta-malas de verdade.
Para quem procura um único carro para ter na garagem, que tenha uma pegada mais esportiva, mas, ao mesmo tempo, sirva efetivamente o propósito de “ser um carro”, e não apenas um brinquedo, o Audi S3 sedã cumpre muito bem essa proposta.
Apesar da ausência da câmera de ré, pelo menos, há um sensor de estacionamento.
A TOCADA DO S3 SEDÃ
O carro é rápido? Em linha reta, ele arranca muito forte. Com o launch control e a patada da tração integral, as coisas são interessantes. Porém, não há como negar que se a proposta era bater de frente com a BMW e seu M135i ou M235i, lhe asseguro com tranquilidade que se o S3 estiver original, passadas as duas primeiras marchas, os modelos da concorrente não tomarão conhecimento do S3 e sumirão à frente.
Não vou jogar na equação a AMG A45, pois entendo ser terreno para o Audi RS3, mas se você quer saber, a A45 AMG passa por cima violentamente do S3. Agora, isso não quer dizer que você passa vergonha a bordo do Audi S3. Pelo contrário, até mesmo em estrada, onde os 4 cilindros deveriam mostrar uma natureza mais limitada, eu confesso que o modelo me surpreendeu positivamente. Ele é meio que um assassino silencioso. Você reluta em acreditar a velocidade e segurança que ele transmite. Realmente, nesse aspecto, é um produto que emula carros de uma classe superior de desempenho.
De fato, entre as alemãs, outra coisa que eu preciso dar o devido crédito à Audi é para o câmbio S-Tronic. De longe, é a caixa mais legal de se interagir no modo manual. As respostas são imediatas aos comandos atrás do volante. Em termos de câmbio, está acima de Mercedes e BMW.
Agora, câmbio por câmbio, existe algo mais barato que o Audi S3 (seja ele Sportback ou sedã), que chama-se Golf GTI. Ok, não é um produto com o mesmo refino, muito menos com a tração integral do Audi, mas na minha percepção, curiosamente, não sei se o Golf GTI, mesmo em linha reta, está tão abaixo do S3. Digo mais, apesar de ser um tração dianteira, o diferencial de deslizamento limitado do Golf é excepcional a ponto de em 99% das ocasiões eu não sentir falta de um conjunto integral.
No entanto, saiba que o Quattro está lá e na hora que você resolver experimentar do que ele é capaz, é simplesmente surreal de tão bom. Tive a chance de dirigir o modelo em asfalto seco e molhado. Mesmo diante de uma chuva torrencial, o S3 desempenha. Ele coloca sua força no chão sem patinar.
O nível de grip do S3 é excepcional. Talvez esse tenha sido o aspecto mais incrível de andar com o S3 – o limite e velocidade que esse monstrinho atinge em curvas. Em ocasiões onde um BMW já teria colocado seu eixo traseiro para passear, o S3 engole a curva de maneira absurda. Nesse sentido, é comparável com a AMG A45, com a diferença é que a configuração da suspensão do Audi permite que ele role um pouco mais a carroceria que o Mercedes.
Aliás, por falar em suspensão, eis aqui o principal traço positivo do S3. Em circunstâncias onde um Mercedes A45 AMG o faria pular e ver uma árvore de natal acesa no painel devido à atuação dos controles eletrônicos, o S3 é um espetáculo. É o que chamamos de dumping dos amortecedores. O carro é extremamente bem acertado nesse aspecto. Você fica no traçado o tempo todo e o carro continua a performar mesmo em asfaltos bem irregulares.
O acelerador tem um atraso de resposta um pouco chato. Depois de dirigir outros carros recentes da marca, tive a impressão que as coisas estavam melhorando, mas parece que na divisão S eles não gostam de muito de resposta imediata. Você realmente sente o carro desempenhando a pouco mais de 3000 rpms. Abaixo disso, não bastasse o turbo lag, há também um hiato de tempo entre o seu comando no pedal do acelerador e a resposta do carro.
A direção é bem coringa. Conjunto elétrico. Infelizmente, não há sensibilidade fenomenal, mas há precisão de sobra. O conjunto é bem direto e no modo Dynamic tem o peso certo.
Eu sempre gosto de um teste que consiste em desligar o controle de tração e brincar um pouco com o carro (desde que haja espaço e segurança para tanto). Há carros que entretem pelo descontrole, enquanto que outros são tão bem acertados e balanceados, que impressionam pela precisão. O S3 cai na segunda categoria. Mesmo com todos os controles desligados, o Audi simplesmente brilha e transmite uma segurança de outro planeta.
CONCLUSÃO
O Audi S3 sedã é um “carro” muito bom. Prestem bem atenção nesse termo “carro”. O modelo tem uma proposta interessantíssima para quem procura um único carro para todas as ocasiões. O câmbio é ótimo e o nível de grip em curvas é realmente incrível. O acerto de suspensão é sem sombra de dúvidas algo especial.
O atraso de resposta do acelerador é, na minha opinião, um ponto negativo. Não chega a incomodar, mas definitivamente tira um pouco do carisma do carro.
Realidade seja dita, em 99% das ocasiões, o S3 é um carro que lembra um Audi A3 sedã. Quando você não estiver provocando os limites dinâmicos da tração integral, há uma frieza e um senso de “comum” que talvez não faça bem a um carro que tem a pretensa proposta e “esportiva”.
O Audi S3 é um pacote com tremenda versatilidade e ergonomia. Você se nega a acreditar que ele é especial. Dirigí-lo em condições mais ordinárias pode fazer você cair na armadilha que o carro talvez não seja tanta coisa. Agora, se você tiver a oportunidade de desafiar os limites do modelo, eu tenho certeza que você vai gostar do que vai descobrir.