PORSCHE CAYMAN S 2014 – TUDO AQUILO QUE O 911 PODERIA SER?

Desde que a Porsche resolveu lançar o Boxster na década de 90, apesar de muitos puristas da marca terem torcido seus narizes, o modelo foi um sucesso.

A aventura da marca na configuração de motor central resultou em um carro cujas características dinâmicas causaram arrepios até mesmo no mais fanático dono de 911. Quando, em 2006, a marca resolveu descobrir do que seria capaz um Boxster com teto rígido, o inferno congelou. Havia chegado o Porsche Cayman.

korncars Cayman S 981 IV

O CAYMAN

Lançado em 2006, nas versões normal e S, com tração traseira e a opção de câmbio manual ou automático tiptronic, o carro impressionou muito (exceção feita ao modelo automático). Um carro menor, feito na plataforma e chassi do roadster Boxster, com teto rígido!

A sensibilidade trazida pela direção hidráulica, o peso menor, o entre eixos mais curto e o motor na posição central tornaram o Porsche Cayman um clássico imediato. Um dos carros mais precisos e neutros já vistos na indústria automotiva. Altamente dócil e divertido. Se a tocada do 911 sempre exigiu um comportamento sisudo e atento dos motoristas, a bordo do Cayman a atmosfera havia ficado mais leve.

Veio o primeiro facelift em 2009. Ainda mais potência e torque, novos motores com injeção direta de combustível, bem como a chegada do câmbio PDK de dupla embreagem . Em 2013, encerrou-se a primeira geração do Cayman, a 987, e muitos questionaram o que seria do 911 se o Cayman tivesse os mesmos motores que equipavam os irmão maior.

korncars Cayman S 981 Vs. 987

A grande crítica ao Cayman, e vejam que não é exatamente um problema, é que a Porsche posicionou o carro abaixo do 911 e quase na linha do Boxster, utilizando o mesmo conjunto motriz do roadster praticamente. A segurança e facilidade de dirigir do Cayman fizeram muitos coçar a cabeça e questionar se não era hora do 911 seguir tal caminho.

Chegou a geração 991 do Carrera em 2011, como ano modelo 2012. Dinamicamente, a Porsche moveu o motor ainda mais para frente, seguindo claramente o que havia visto e aprendido com o sucesso do Cayman, e colocou um sistema elétrico hidráulico de direção. Por mais que eu reconheça toda a evolução tecnológica do novo carro, a aura clássica do 911 acabou um pouco morta. A frente é mais pregada e a direção não tem aquela sensibilidade absurda.

Eu temia se a mesma tecnologia que havia “evoluído” o Carrera teria afetado negativamente  o Cayman.

ASPECTOS TÉCNICOS DO CAYMAN S 981

A versão S do atual Cayman 981 vem equipada com um motor central, boxer de 6 cilindros, aspirado, 3.4. O conjunto rende 325 cvs a 7400 rpms e 37,7 Kgfm entre 4500 e 6500 rpms.

O câmbio pode ser manual de 6 marchas ou PDK (dupla embreagem) com 7. Dificilmente veremos um Cayman S 981 manual no Brasil. Equipado com o câmbio PDK e com o Sport Chrono Package, o Cayman S é capaz de ir de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos e atingir a velocidade máxima de 283 km/h. O carro pesa cerca de 1425 kgs. O corte de giros do Cayman S fica nos 7800 rpms.

POR DENTRO DO CAYMAN S 981

Logo ao entrar no novo modelo do Cayman, geração 981, a primeira impressão que tive sobre o Carrera 991 se mantém. Houve uma “Panamerização” do interior. Os materiais são extremamente refinados, com aplicações de couro para todos os lados da cabine. Não há diferença entre os botões usados a bordo do mais novo Porsche 911 Turbo S 2015 e aqueles encontrados no Cayman 981. Tremendo trabalho da marca em deixar claro que você é proprietário de um carro especial, que é um Porsche, seja ele qual for. Ok, faltam aplicações de alcântara em alguns cantos da cabine, mas não vamos nos prender a detalhes.

A principal diferença da cabine do Cayman para um 911 é a sensação de que tudo parece mais aconchegante. É realmente uma versão diminuta do interior do modelo maior. O teto é mais baixo e o banco não tem tanto espaço para se movimentar tão para trás como no 911, o que é natural, afinal, não há pseudo-bancos traseiros no Cayman devido ao motor central. Porém, mesmo eu, que tenho cerca de 1,87 metros de altura, consegui encontrar a posição certa para dirigir. Acredito que se você passe consideravelmente de 1,90, talvez tenha problemas.

korncars Cayman S 981 Interior

DIRIGINDO O CAYMAN S 

Ignição dada pelo lado esquerdo, com manda o figurino Porsche. Freio de mão elétrico pressionado, drive engatado e manobramos vagarosamente. Nesse momento, não tenho como deixar de pensar com o Cayman parece um 911 que encolheu. A cabine menor e as dimensões externas do carro facilitam a vida.

Curiosamente, pode parecer impressão, mas no Cayman eu me sinto mais próximo do chão, do que a bordo do 911.

Dirigindo calmamente no modo normal, o Cayman S 981 se beneficia de todas as evoluções tecnológicas introduzidas no 911 991. A direção com assistência elétrica é muito leve nessa circunstância. A civilidade com que os novos modelos Porsche lidam com o câmbio PDK é sensacional. A resposta do acelerador é muito mais suave do que nos modelos da última geração. A suspensão chega a beirar o conforto de um carro de passeio, só que mais baixo.

É como sempre digo, você pode nunca ter dirigido um Porsche, mas bastam alguns minutos para você se familiarizar e parecer que o conhece há anos. Agora, se você quer conhecer efetivamente o Cayman S 981, comece a brincar com os modos “Sport” e “Sport Plus”.

Ao acionar o botão “Sport”, imediatamente a suspensão fica mais dura e o carro abaixa um pouco (singelamente, quase que imperceptível aos sentidos) e a aparece a mensagem de que o PASM está no modo mais agressivo. As respostas de câmbio e pedais ficam mais afiadas, porém, ainda civilizadas para andar em vias públicas.

A Porsche insiste nos manuais de condutor que os motoristas deixem o “Sport Plus” para track days e eventos fechados. Sinceramente, toda vez que entro em um carro com Sport Chrono Package, eu ignoro essa recomendação.

No Sport Plus, o carro vai sempre procurar a condição de aceleração e desempenho mais rápida possível. A forma mais gostosa de dirigir o carro com esse botão pressionado nas ruas, na minha opinião, é passar o câmbio para o modo manual e trocar as marchas pelas borboletas atrás do volante –  dessa forma você aproveita  resposta afiada do acelerador e utiliza a marcha que quiser.

Além disso, gosto de deixar o PASM no modo esportivo para  o autódromo, caso contrário você tende a pular demais trafegando sobre asfalto irregular. A suspensão na configuração normal é ótima em conciliar performance com as nossas ruas.

A nova calibragem do câmbio PDK no Cayman S 981 permite respostas das borboletas ainda mais obedientes do que no modelo anterior, bem como trocas mais rápidas.

Assim que tenho a chance de afundar o pedal da direita, noto que em linha reta muito pouco mudou em relação ao antigo Cayman S. As diferenças sob aceleração máxima são bem discretas. Porém, curiosamente, sinto que a suspensão inclina menos, assim como o ronco do motor também parece estar mais vivo.

Na saída de farol, o Cayman S 981 se mostra um dos carros mais precisos que já experimentei. Se a geração anterior já era excepcional, pode ter certeza que a nova é ainda mais refinada. Nessa primeira esticada, consigo cobrir as 3 primeiras marchas, até que aparece um bueiro no meio da via, coisa típica de quem vive em São Paulo. Meu reflexo responde com uma pisadinha no freio e uma bruta mudança de direção para a direita. Eis que vem uma grande surpresa positiva.

korncars Cayman S 981 Principal

O que eu já havia percebido no Cayman S 981 trafegando sob asfalto irregular calmamente era o quanto todas as imperfeições estavam sendo transmitida para o volante. Algo que não tinha sentido no sistema do 911 991. Quando eu precisei de uma mudança de direção agressiva, pude perceber quão aprimorada é a calibragem do sistema  no Cayman S.

A direção do Cayman S 981 é muito mais “viva” e sensível do que no 911! Devido as dimensões menores e a posição central do motor, também é perceptível como o Cayman S muda de direção de maneira mais direta, rápida e precisa do que o 911. Que carrinho delicioso de tocar. O diabinho no meu ombro havia acordado e pedia mais.

Peguei uma via cujas condições de asfalto irregular a tornam uma boa candidata para um rally, dei acelerador no Cayman S e ele colocou a força no chão de uma maneira sensacional. Notem, fui olhar depois, o PASM estava no modo mais esportivo. Pegamos algumas vias mais vazias, mas, dessa vez, com asfalto melhor, onde a neutralidade e precisão do Cayman brilhariam.

O mais impressionante a respeito do carro é como você tem confiança para subir no acelerador antes nas curvas. Enquanto em um 911 você espera pacientemente a hora certa de afundar o pé para aproveitar os benefícios daquela imensa tração vindo do eixo traseiro pesado, com o Cayman S 981 você pode se dar ao luxo de ser mais insolente e arrepiar antes da hora. Você tem mais segurança, mais sensibilidade de como o carro está se comportando próximo do limite.

korncars Cayman S 981 II

O Cayman S parece ter um nível de interação com o motorista que beira a simbiose. Não me entendam errado, o 911 é um tremendo de um driver’s car, mas quando você começa a fazer amizade com um 911, você nunca pode perder o senso de respeito de que se você abusar no limite, ele vai estar lá para lhe punir. O Cayman S, por sua vez, realmente parece que está 100% do tempo preocupado em lhe entreter, em fazer você dar risada. Sim, ele ainda é um carro motor central, com tração traseira, mas é tão equilibrado. Não há um pedaço de imprevisibilidade no carro.

Do ponto de vista de chassi, suspensão, resposta do acelerador, câmbio e direção, então, o Cayman S 981 é sem defeitos. Honestamente, não consigo encontrar um aspecto que possa criticar no carro. De verdade, é excepcional. Que tremendo projeto.

CONCLUSÃO

Quer dizer que é melhor que o 911? Não! Quero dizer que é um estilo de pilotagem completamente diferente. O 911 é um carro que vai lhe desafiar e provocar o tempo inteiro. A bordo de um 911, você dirige forte de maneira séria e compenetrada. No Cayman, você está autorizado a dar risada, ele não vai brigar com você.

Como escolher? Bem, se o 911 Carrera e o Cayman usassem os mesmos motores, eu acredito que para aqueles menos tradicionais, escolher o Cayman seria algo mais fácil. Talvez, por essa razão, a marca tenha optado em posicionar o Cayman abaixo do 911. Para o purista, não tenho dúvidas que o 911 sempre será a menina dourada. O que a Porsche fez com o 911 foi mais do que criar um carro, mas sim criar uma forma distinta de dirigibilidade, única em muito sentidos, mas isso não quer dizer que o Cayman não seja digno dos esforços de criação de um legado de mesma categoria.

O motor 3.4 do Cayman S é incrível, mas não há como negar que lhe falta aquela “patada” mais forte que você encontra no 911, especialmente no quesito torque quando comparado com o Carrera S. É impossível para o verdadeiro entusiasta automotivo não pensar o que seria do Cayman com o motor do irmão maior.

As aptidões dinâmicas do Cayman são fenomenais. Muitos insistem em dizer que o Cayman é tudo o que o 911 deveria ser. No entanto, vejo isso de outra maneira. Não se trata de falar que o Cayman é melhor ou pior que o 911. Ele é completamente diferente. Um estilo novo de pilotagem Porsche. Se o mercado consumidor da marca entendesse isso, talvez víssemos o nascimento de um Cayman ainda melhor.

Aliás, um pequeno complemento, a Porsche acabou de lançar em 2015 o Cayman GT4, cujo motor é aspirado, boxer, 6 cilindros, 3.8 e 385 Hp, disponível apenas com câmbio manual, ou seja, um motor antes reservado ao lendário 911… é… acho que o mercado entendeu mais rápido do que eu pensava.

korncars Cayman S 981 III

 

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