Pensei muito se esse post deveria ser um review. Minha escolha sempre é por falar de experiências que tenho dirigindo carros. Porém, quando a oportunidade de estar a bordo de algo especial surge, você não pensa, apenas aproveita o momento e agradece a chance.
Acredito que todos aqueles apaixonados por carros esportivos em solo brasileiro sabem da existência do único Pagani Zonda F no Brasil. Graças a um grande amigo, tive a chance de ocupar o banco do passageiro durante uma tarde de domingo.
Raramente saio impressionado de um carro quando fico no banco do passageiro, mas, para tudo, há uma primeira vez.
Com o Pagani, no entanto, não é nem uma questão de ficar “impressionado”, mas sim de encontrar uma referência. Com o que você compara um Pagani? Ok, é um carro… tem um motor alemão AMG, V12, 7.3, central. A potência é de 660 cvs (aproximadamente). O torque é de pouco mais de 75 Kgfm. São cerca de 1250 Kgs de peso. O câmbio é manual de 6 marchas. Até aqui, a frieza dessas informações técnicas não transmite o que “efetivamente” é um Pagani Zonda.
Sem andar, seu melhor palpite em tentar adivinhar do que se trata um Pagani Zonda seria pelo visual. Seja o design interno ou externo, o Pagani parece ter saído de um sonho abstrato de um adolescente. Bem, não exatamente um moleque, mas sim um senhor – Horário Pagani, nascido na Argentina, porém, radicado na Itália, que após ter trabalhado muitos anos na Lamborghini, fundou seu próprio negócio em 1991, trazendo do seu imaginário para o mundo real os surreais Paganis, sete anos após ter aberto às portas da Pagani Automobili.
Se você ainda não se convenceu pelo visual, você pode prestar atenção ao ronco que sai das quatro ponteiras de escapamento situadas no meio da traseira do carro. Assim que o carro é ligado, ecoa um som que é um pouco mais do que um motor rugindo. É sinal de algo com muita alma despertando.
Se você chegou até aqui, deve estar impressionado (espero eu).
Porém, tendo visto essa “coisa surreal” passar por mim nos últimos 4/5 anos, confesso que já havia me acostumado com sua onipresença (presença seria pouco). Como as coisas mudariam a bordo desse “monstro” da engenharia automotiva.
Entrar nele não é uma coisa simples. Para entrar, há um “salto” (da mesma forma que numa Mercedes Benz SLS AMG). Os bancos, feitos de couro de avestruz, transmitem requinte e transpiram o quão exótico o Pagani Zonda é, porém, longe de serem confortáveis. São firmes e duros.
O painel de instrumentos é tão futurista quanto quaisquer fotos do carro que você possa ter visto. É tudo “artístico” e “dramático”. Faz-lhe até questionar se o Zonda é uma obra de arte ou um carro esportivo que deve ser levado a sério (i.e um “Spyker”). Como viria a descobrir em alguns segundos, a hora que os giros sobem e o carro entra em movimento, você esquece totalmente qualquer outro design ou perfumaria do Zonda. Por falta de melhor frase, a hora que o Pagani Zonda anda, a “porra” fica legitimamente séria.
É uma monstruosidade de torque sendo jogada no asfalto, que deve ser domada por meio do câmbio, da embreagem e do acelerador. O controle de tração é do tipo: “ou está ligado e castra todas suas intenções; ou você está sozinho e tem que se F****”. Os pneus traseiros gigantescos, parecem não ser nada para domar as ingerências mais agressivas no acelerador, mas, curiosamente, seja pelo fato do condutor ser bom de volante e conhecê-lo tão bem, seja por quê o carro é tão bem projetado, mesmo nas horas em que a traseira veio dar boa tarde em grande estilo, a facilidade de controlar a fera é incrível.
Nunca estive a bordo de um carro cujas respostas aos comandos do motorista fosse tão direta e sensível. Não sei se seria capaz de dominar o Zonda de primeira sob condução mais esportiva, mas tenho certeza que após algumas horas a bordo dele estaria dando risadas ensandecidas. O carro é grande, mas a visibilidade é magnífica, pois o cockpit fica envolto de uma “bolha” de vidro. Pela proximidade do aslfato, você começa a enxergar espaços que não existem em carros comuns.
No entanto, se há uma coisa que o Pagani Zonda me ensinou mesmo foi o real significado de downforce. Muito mais do que mera “forma”, o design do Pagani é “função”. Em diversos momentos e programas, o Sr. Horário Pagani diz que a sensação de segurança e estabilidade de seus carros é a mesma a 200 Km/h ou a 300 Km/h. Baseado na minha experiência, não tiro ou ponho nada nessa afirmação. O Zonda tem tamanha pressão aerodinâmica, que assusta. O trajeto (ou “traçado”) percorrido foi o mesmo pelo qual sempre passo com meus carros ou com carros que testo. Sei muito bem da existência de irregularidades de asfalto suficientes para lhe fazer “levantar vôo” nesses locais.
O Zonda tem uma suspensão que é firme, mas com uma calibragem muito boa para rodar nas ruas comuns, apesar da altura em relação ao solo. Essa suspensão muito bem acertada, trabalhando em conjunto com o downforce do carro, produz um efeito muito interessante. Sim, inicialmente, você acha que vai morrer, pois pensa: “nessa velocidade… aqui? F****”, mas assim que o Zonda passa por cima do aslfato irregular, a suspensão trabalha, mas depois, tão logo você note que o carro vai voar, algo puxa ele para baixo, a ponto de sentir mínimas raspadas no assoalho do carro.
É uma sensação extraordinária de segurança. A bordo do Zonda você sente que está ganhando velocidade em um ritmo incrível, mas em nenhum momento você começa a sentir “meu deus, as coisas vão ficar fora do controle a qualquer momento e eu vou morrer”.
Em linha reta, há carros menos exóticos e menos caros que serão capaz de desafiar o Pagani Zonda F. Um Nissan GTR com seus 650 – 700 Hp, ou até mesmo um Porsche 911 Turbo com potência semelhante, vão ser mais rápidos saindo da imobilidade e conseguirão acompanhar o ritmo do Pagani de alta. Talvez, o nível de segurança seja o mesmo. Porém, em termos de experiência? Nem de perto.
Em um autódromo, se você pegar 10 pilotos profissionais e lhes der uma tarde com um Zonda F, eu duvido que eles optem por qualquer outro carro esportivo moderno. Não é o tipo de carro que você vai se acostumar ou dominar rapidamente, porém, é uma dose meio estranha de brutalidade com docilidade. De respostas imediatas e diretas ao extremo, com um senso de segurança sem igual. Apesar de não ter dirigido, após tocar a direção e esterçado ela algumas vezes, ela é pesada, mas não muito mais do que a de um carro esportivo (sem direção elétrica) e os engates de marcha são curtíssimos, precisos e extremamente lisos. É como se o Zonda tivesse nascido para ser um carro de corrida e alguém resolveu “ajeitá-lo” para uso nas ruas.
Lamborghini, Ferrari, Porsche, BMW, Audi, Mercedes etc. Honestamente, não dá para comparar a experiência no geral com nada que tenha dirigido. Há carros esportivos, SUVs esportivas, hot hatches, carros focados em track-day e há o Pagani. Ainda tenho muitos carros que quero dirigir, mas, talvez, tenha começado a entender a razão dos hypercars custarem o que custam e serem o que são… totalmente especiais. Nada chega perto da “tocada racing” de um Pagani Zonda. É incrível. Daquelas estórias que você, como amante de carros, vai contar para muita gente nos próximos anos.
Aêêê Korn! Finalmente andou de Zonda, hein! Agora o William e o Leone não podem mais pegar no teu pé no Amigos por Carros!
Nunca andei, óbvio, mas deve ser mesmo uma coisa de outro mundo…