Não, não estou aqui para falar dos carros em si. Vocês já devem estar carecas de saber das especificações técnicas de cada um deles.

Sabe-se que o 991GT3 tem potêncial para ser o primeiro track car da marca que aponta definitivamente para o futuro, conseguindo manter um razoável nível de envolvimento com o motorista, apesar do câmbio PDK e da direção elétrica. Também é notório que o novo 991 Turbo S seja, talvez, o carro com performance mais próxima de um hypercar que seja facilmente utilizado sob todas as circunstâncias imagináveis.

Agora, o que é notícia recente é que os dois modelos finalmente passam a ser disponíveis para quem quiser comprá-los oficialmente aqui no Brasil. Não vou questionar margens de lucro ou o critério adotado para precificá-los, mas vou comentar o “resto”, o que o preço desses modelos significa.

Vamos começar pelo Porsche 991 GT3, cuja pedida é R$ 799.000,00 ou, para quem é ruim de marketing, R$ 800.000,00. Sim, é uma quantidade medonha de dinheiro, mas, na minha opinião, não fugiu tanto da minha expectativa. Quando me perguntaram quanto eu achava que custaria esse carro aqui no Brasil no lançamento, sempre achei que seria algo na casa dos 700 mil. Pois é, errei por “singelos” 99 mil reais.

O fato é que, pelo menos, no caso do GT3, apesar de ser um produto desenvolvido para pista, com a adoção do câmbio PDK e a direção elétrica, é muito provável que seja presença mais frequente nas ruas brasileiras do que a geração anterior. Gente que antes tremia nas bases ao ouvir as palavras “câmbio manual” e “embreagem”, não tem mais razões para ter medo.  Se antes, para vê-los, você precisava ir a eventos em autódromo, tenho certeza que o veremos muito mais nas portas de shoppings, restaurantes, bares (se beber, não dirija… especialmente um esportivo) etc.

Até eu confesso que apesar de gostar muito dos GT3s e tudo o que eles representam, sempre tive medo de ter um. Por ser um carro muito específico, muito rígido, muito focado para as pistas… por exigir um motorista mais especialista ao volante. Curiosamente, grande parte dos reviews sobre o GT3 991 elogiam demasiadamente como o carro ficou mais controlável e na mão para aqueles “menos habilidosos”. Sem dúvida, é um produto que desperta a minha curiosidade até mais do que o 991 Turbo / Turbo S.

Agora, meus amigos, quando o tema é o 991 Turbo S, não me cabe desmerecer o carro. Muito pelo contrário. É, hoje, o 911 em produção mais rápido que o seu dinheiro pode comprar (até que vejamos o novo GT2). Mas… a questão é: seu dinheiro quer comprar um 991 Turbo S?

Não me entendam errado, por mais que o 991 Turbo S seja um carro incrível, é simplesmente uma quantidade absurda de dinheiro por um carro que historicamente sempre custou 50 a 60% que uma Lamborghini V10 ou uma Ferrari V8. Como pedaço de engenharia automotiva, ainda aposto no 991 Turbo S como o melhor produto, o mais resistente, o mais fácil de manter e, em 99% das situações, o mais rápido também.

Porém, se você não é um cara que realmente gosta de Porsche, eu acho que o 991 Turbo S talvez não seja o produto para você.

Inicialmente, a não ser que você seja do tipo de pessoa que assim que é lançado um Iphone novo corre para comprá-lo para ter o direito de se gabar para todos os seus amigos, eu acho que você nunca vai conseguir explorar o potencial completo de um 991 Turbo S e tudo que ele pode fazer.

Segundo, se a sua preocupação a bordo de um esportivo é o quanto você consegue impressionar nas ruas ou eventos sociais, acredite em mim, para a população em geral, diferenciar entre um Boxster, um Cayman, um Carrera ou um Turbo, é uma tarefa árdua. Aliás, para a população “leiga”, o Boxster, por ser conversível, tende a ser o que mais impressiona, rs. Agora, se você quer realmente se destacar na multidão, o “primo” de pista, GT3, tem mais chances de alcançar mais olhares.

Terceiro, se o seu negócio é andar na frente, muito provavelmente, você prepare até o seu liquidificador. Naturalmente, seu carro vai ser, no mínimo, “chipadinho”. Saiba que dessa vez a Porsche realmente está realmente dedicada a impedir que os proprietários modifiquem seus veículos. Se na geração 997 MK II as coisas já não eram simples, espere que, dessa vez, somente um cara formado no ITA será capaz de reprogramar a central dos 991 Turbo após utilizar um algoritimo incompreensível e horas de mão-de-obra, rs. Claro, sempre que você for a algum evento e tiver a chance de acelerar contra outros carros originais, você andará na frente. Agora, carro “original” no meio desses eventos é meio que duende… muito se ouve as lendas a respeito, mas ninguém nunca viu um de verdade.

Não vamos nem entrar no mérito do que você poderia comprar um o preço de uma Turbo S 991, mas afirmo, de antemão, que daria para comprar um 911 Turbo 997 S e um Nissan GTR 2012, ambos passíveis de serem preparados e desempenhar mais que o 991 Turbo S.

Resumindo, R$ 1.1 MM por um Porsche de produção em linha é um quantia surreal. Coloca o top de linha da marca muito próximo de produtos que antes eram criticados por entregar pouco pelo preço cobrado aqui no Brasil. A culpa é de quem? Muitos vão dizer que a Stuttgart enloqueceu; outros vão dizer que é culpa da oscilação do dólar; alguns da carga tributária etc. A verdade é que, apesar do 991 Turbo S ter ficado alguns milhares de dólares mais caro do que na geração 997, esse é o preço de ser brasileiro. Sempre pagaremos mais caro por aquilo que os estrangeiros podem ter por bem menos (cerca de RS 180 mil dólares para os norte-americanos, por exemplo).