– Seu guarda! Seu guarda! Acabaram de bater na traseira do meu carro.
– Onde se encontra o veículo? O culpado evadiu-se ou ainda encontra-se no local?
– Está logo ali. O motorista que bateu também. Ele furou o semáforo vermelho e atingiu meu carro que estava estacionado. Não quero acusar ninguém, mas acho que o cara está meio alcoolizado.
– Bom, se estiver, não quero estar na pele dele. Ainda mais com a nova lei.
– Vem cá, seu guarda. Olha só o estrago.
– Espera aí. O seu carro é um super esportivo?
– Eh… é sim.
– Como eu vou saber que o senhor não trafegava em alta velocidade?
– O carro estava, e ainda está, estacionado. E, além do mais, como eu ia bater a traseira na frente de outro carro em alta velocidade!?
– Inconclusivo.
– Tem testemunhas aqui em volta. Pode perguntar para qualquer um.
– Senhora, este carro é um super esportivo?
– Acho que é, né?
– Você rapaz, isso é um super esportivo ou um carro comum?
– Super esportivo.
– Viu só? Todas as testemunhas confirmam aquilo que eu estou dizendo: o senhor tem um super esportivo.
– Que estava estacionado aqui e aquele cidadão bêbado passou em alta velocidade no semáforo vermelho e bateu atrás.
– Que cidadão?
– Aquele lá sentado na sajeta cantando “Only You” pro cachorro do mendigo.
– Veja bem, isso não isenta o senhor do fato de possuir um super esportivo.
– Mas eu sou a vítima!!
– Eu já vi vítimas antes. E nenhuma delas estava à bordo de um super esportivo.
– Deus do céu! Ponha-se no meu lugar, por favor.
– Impossível. Eu não tenho um super esportivo.
– Aí que bom! Olha lá! A perícia chegou. Agora vão confirmar que o meu carro estava estacionado, o cidadão estava alcoolizado e o semáforo estava vermelho. Você quer perguntar para o perito ou vai me dar a honra?
– Fique à vontade.
– Senhor perito. Por favor, o que o senhor está vendo aqui?
– Huummm… é preciso analisar com calma. Mas, aparentemente, todas as evidências indicam que o senhor tem um super esportivo.
– O que!!!? Ora, tá bom. Okay. Eu admito: tenho um super esportivo. Que estava estacionado e foi atingido na traseira por um motorista bêbado que passou no semáforo vermelho. Quem é o culpado aqui?
– Huuuummmm… aparentemente não há nenhuma evidência de que o carro que atingiu o seu seja um super esportivo.
– Ma… mas eu sou a vítima. É óbvio!
– Não piore as coisas senhor.
– Piorar!!!? Onde já se viu um absurdo assim!!!? Este país é uma democracia. E numa democracia, todos são iguais perante a lei. Não são? Então eu, a vítima, exijo meus direitos.
– Pois bem. Você tem o direito de permanecer calado. Tudo que você guiar poderá ser usado contra você no tribunal. Se não puder pagar um advogado, o Estado irá duvidar porque você tem um super esportivo.