Na linha dos meus posts mais recentes sobre os carros que tive a chance de dirigir, chega a hora de falar do Jaguar XKR-S.
Quem me conhece pessoalmente, sabe que tendo a olhar com certo ceticismo para a linha “R” da marca. São carros feitos para competir com os Audis RS, BMWs ///M e Mercedes Benz AMG, mas, na minha opinião, parece que sempre ficam um passo atrás em todos os sentidos imagináveis. Isso não necessariamente quer dizer que são carros ruins, muito pelo contrário, acredito que o Jaguar tem o seu público específico.
Curiosamente, por falar em “público específico”, se há uma marca distintiva dos Jaguares é justamente o seu caráter inconfundível e sua “aura” de “sou muito mais caro do que você imagina”. Dinamicamente falando, porém, não está na minha lista de favoritos.
Nos últimos anos, preocupados em penetrar em um nicho de mercado ainda mais específico, a Jaguar resolveu criar mais uma subdivisão de performance, a “R-S” (na mesma linha do que a Audi faz com as linhas “S” e “RS”). A verdade é que esse é um dos truques mais velhos no livro de tática de marketing automotivo para tentar apelar para o consumidor atrás do produto mais radical e exclusivo possível. Nada mais natural que, para representar esse “brasão” ainda mais agressivo, a Jaguar resolvesse utilizar o seu modelo mais requintado em linha até o momento, o coupé-GT Jaguar XK.
O Jaguar XKR-S é equipado com o mesmo motor 5.0 V8 supercharger do XKR, mas, dessa vez, produzindo 550 Hp e 69,4 Kgfm de torque. A Jaguar declara que o XKR-S é capaz de ir de 0 a 100 Km/h em 4,4 segundos e atingir a máxima de 300 Km/h
No mesmo dia que havia acabado de dirigir a Ferrari 458 e o Lamborghini LP 570-4 Performante, faltava-me ainda experimentar o Jaguar XKR-S conversível. Nas palavras de um dos donos do World Class Driving, eu deveria me surpreender com a força e versatilidade do carro…
O VISUAL E DINÂMICA DO JAGUAR XKR-S
Como você diferencia do XKR-S dos demais XKs? Acho que essa é a pergunta principal a ser feita, afinal, a menos que você pretenda andar com o capô aberto, é preciso destacar os outros detalhes que fazem o modelo exclusivo. Inicialmente, o XKR-S é oferecido em 6 cores diferentes, entre as quais, a mais chamativa (e que deve ser a campeã de vendas para aqueles desesperados por chamar atenção), azul “smurf”.
As rodas do XKR-S são aro 20 como as do modelo XKR, porém, cerca de de 3 cm mais largas e calçadas com pneus Pirelli Pzero (255/35 na frente e 295/30 na traseira) em prol de melhor aderência. Apesar de conversível, a Jaguar assegura que o XKR-S conversível é mais rígido que o XKR normal. A suspensão é completamente nova comparada ao modelo standard, sendo cerca de 23% mais rígida também.
O esforço da marca não parou no chassi e na suspensão. Foram melhorados os aspectos aerodinâmicos do carro, assim como os freios. O sistema de freio de alta performance da Jaguar (Jaguar High Performance Braking Sustem) tem discos de freios aro 15 na frente e 14 na traseira, com cerca de 44% e 31% a mais na frente e atrás, respectivamente, de área de contato com as pastilhas. Notem, no entanto, que apesar dessa preocupação, os discos não são ventilados, como um carro de performance mereceria.
Porém, se você esperava que todo esforço “R-S” fosse resultar em um carro mais leve… ooopppsss… O XKR-S conversível pesa exatamente a mesma coisa que o XKR, ou seja, 1850 Kgs. A essa altura, você deve estar se perguntando a respeito do câmbio, não é? Manual, semi-automatizado, de dupla embreagem? NÃO!
Jaguar XKR-S não tem um câmbio high tech, semi-automatizado, de dupla embreagem, mas sim uma caixa automática de 6 marchas, com o bom e velho conversor de torque, que vai, inevitavelmente, sugar parte da força daquele maravilhoso 5.0 V8, supercharger.
POR DENTRO DO JAGUAR XKR-S
Assim que me acomodo dentro do carro, a primeira impressão é de conforto e de refinamento. Acabei de sair de dentro da Performante, ou seja, não precisaria de muito mais para me sentir confortável após as “porradas” na nuca que havia sofrido a cada troca de marcha do touro. Os bancos do Jaguar são macios e envolventes, couro de primeira qualidade, mas muito longe da “pegada” radical que a cor “smurf” e a sigla “R-S” queriam sugerir.
Faltavam alguns minutos para que começasse a dirigir o carro, então, aproveitei o momento para “dissecar” tudo dentro do carro, e esse talvez tenha sido o primeiro problema que encontrei. Talvez, se esses minutos não tivessem existido e houvesse saído imediatamente com o carro, não perceberia que a qualidade dos botões e comandos do carro poderia ser melhor.
À primeira vista, tudo parece muito bem encaixado e o brilho dos botões e comandos parece algo high-end, top de linha. Porém, quando você começa a passar a mão neles e acioná-los, parecem baratos. Quando comecei a mexer nos comandos dos ajustes do banco, tive a impressão que eram de metal, mas tratava-se de plástico cromado. O acionamento do botões parecia meio frouxo, do tipo que quebraria com facilidade. Os ajustes do ar condicionado, da central de multimídia, dos vidros… tudo parecia ter sido retirado de um carro mais barato, quase que como se fosse um legado “maldito” da época que a FORD era dona da marca.
Para um carro que tem como pretensão bater de frente com um Mercedes Benz SL 63 AMG 2013, no aspecto acabamento, pelo menos, as coisas não começaram muito bem para o “cat”. Mas, como eu digo, carro esportivo só pode ser julgado após experimentar a performance que ele é capaz de oferecer.
DIRIGINDO O JAGUAR XKR-S
É chegada a hora de botar o XKR-S para esticar as pernas. A hora mais antecipada ao volante de um esportivo. Até aqui, tudo o que eu falei pouco importa, afinal, carro esporte foi feito com um único propósito: performance. Ok… alguns são mais luxuosos ou confortáveis… até mesmo, melhor acabados, mas, no “frigir dos ovos”, o que importa mesmo é aquela força G aplicada contra o seu corpo na aceleração, ao contornar uma curva ou em uma freada mais forte, bem como a forma que tudo isso lhe é transmitido pelos pedais, câmbio e direção!
Assim que entro na estrada, observo que a pessoa conduzindo a 458 à minha frente está notadamente com medo da italianinha e me resta apenas deixá-la abrir uma distância razoável para então mergulhar o pé direito no “cat”. Assim que a noto a 458 a uma distância segura, movo o “pilar” do câmbio um pouco mais no sentido horário, da posição Drive para a Sport, observo que a transmissão está no modo esportivo.
Imediatamente, o ronco do escape muda de personalidade. Se até agora, o “gato” comportava-se como um felino pertencente a uma idosa, de repente, pelo menos o som emanado do escape, anuncia que agora é a hora do “gato subir no telhado”. O ronco do carro fica grave e incorpado. O acelerador ficou altamente sensível aos meus comandos. Afundo o pé com vontade, como se fosse furar o piso do carro. O escape grita, sou pressionado contra o banco com uma quantidade de força respeitável, acaba a terceira marcha, chega a quarta e… hora de subir no freio… lembram-se que falei que a pessoa a bordo da 458 estava com medo? Pois é…
Foram-se alguns quilômetros até que pessoa pilotando a 458 Itália se soltasse um pouquinho mais, nesse tempo me restou testar as respostas das “borboletas” atrás do volante. Realmente, o câmbio do XKR-S não tem nada de esportivo. Não é péssimo, é até que muito bom para uma caixa automática, mas é aí que está o problema: um carro desses não combina com isso!
Honestamente, a borboleta obedece muito bem aos comandos do motorista, mas somente se os giros estiverem onde o computador entender adequado, mas isso não é demérito da caixa automática, afinal, a novela é mesma com qualquer outro câmbio high tech de um Audi, BMW, Ferrari, Mercedes ou Porsche. O problema é que você percebe a influência do conversor de torque roubando aquela força “bruta” do carro… É como se a performance do carro com esse câmbio fosse tributada em uns 15%, ao passo que se utilizasse uma caixa semi-automatizada moderna, seria isenta!
As trocas de marcha não são rápidas ou agressivas. São suaves como em qualquer outro carro de passeio comum. Ao sentir o carro explorando as bandas de RPM, especialmente nas marchas mais altas, há torque de sobra, mas você não consegue negligenciar que parte dessa força toda fica meio que anestesiada. É uma sensação curiosa. Talvez, se não tivesse dirigido a 458 ou a Performante no mesmo dia não sentiria isso.
Assim que a 458 “embala”, eu começo a ver do que o XKR-S é capaz nas curvas de alta: extremamente estável e confortável… huuummm… Ok, talvez não a reação que eu esperasse pela proposta radical da sigla “R-S”, mas longe de ter um nível de rolagem de carroceria desagradável. Porém, nas curvas mais fechadas, ali sim eu tive certeza que o XKR-S não é um animal devorador de curvas.
O “Jag” não ataca as curvas fechadas com a ferocidade de um leão caçando um almoço, mas sim com um urso que acabou de se alimentar e está prestes a hibernar. Ou seja, ainda há fome para comer mais alguma coisa, mas muito longe de se lambuzar. A suspensão, muito embora seja mais 23% mais rígida que no Jaguar XKR normal, é ainda bem macia. Ataca com muita responsabilidade as curvas de alta, mas não transmite a segurança necessária para uma condução mais agressiva em curvas mais fechadas.
Se já não bastasse a suspensão, a direção também merece um pouco de crítica. Tem uma empunhadura muito boa, mas o peso é um pouco leve demais e a resposta também não é direta como se espera em um esportivo que sugere a agressividade do XKR-S. Um detalhe que me incomodou bastante foi a posição das borboletas atrás do volante. Ou você virá a direção ou troca uma marcha, pois os comandos do câmbio ficam em uma posição péssima.
Porém, para salvar o dia do Jaguar, próximo ao final do passeio, nos deparamos com algumas longas retas e a 458 começa a se soltar. Noto que o piloto afunda o pé a minha frente e, sem hesitar, faço o mesmo no XKR-S. Curiosamente, noto que explorando a terceira, quarta e quinta marchas em algumas puxadas, a 458 não parece abrir. Pelo contrário, o Jaguar parece manter o mesmo ritmo nas retas, o que, a essa altura do campeonato, já é digno de elogios superlativos!
CONCLUSÃO
Como eu sempre digo, não existe carro ruim. Todo carro tem sua proposta e deve ser analisado com base nela! Você tem que ser um completo sem noção para chamar um carro como o Jaguar XKR-S de ruim. O carro tem força e performance de sobra, é bem confortável (embora pudesse ser melhor acabado) e tenho certeza que é capaz de levar qualquer um por longas distâncias em um ritmo incrível, mas não é um carro que eu compraria para acordar 6:00 da manhã no domingo para pegar uma serrinha vazia, curtir o vento na cabeça e devorar umas curvas ou, até mesmo, que levaria para um track day.
A carroceria rola bastante nas curvas mais fechadas, os freios não são ventilados, o câmbio é automático com borboletas atrás do volante pessimamente colocadas e a direção não tem o nível de resposta que você esperaria de um carro esportivo com pretensões agressivas e radicais.
Nesse sentido, é muito provável que a o XKR-S seja uma vítima da alcunha “R-S”, que a Jaguar parece querer utilizar de agora em diante nos seus carros mais orientados para performance. Talvez, se a ideia da marca fosse apenas fazer um carro mais refinado que o XKR original, tratando-o como o legítimo GT conversível que é, meu desapontamento não seria tão grande. O problema é que sentei no Jaguar pensando que dirigiria o primeiro Jaguar hardcore da minha vida, e ter acabado de dirigir a Itália e a Performante com certeza não ajudaram.
Agora, se fosse para comercializar o XKR-S como uma versão mais refinada do modelo standard, a Jaguar bateria de frente com um carro que só tenho elogios – a Mercedes Benz SL 63 AMG 2013, que é simplesmente o padrão da categoria de GTs conversíveis. A SL 63 AMG tem teto retrátil de alumínio, câmbio 7-G tronic e um motor V8 bi-turbo com 557 Hp e 92 Kgfm de torque, tudo isso com o melhor acabamento, ergonomia e gadgets que a Mercedes pode oferecer, por um preço equivalente. Pelo menos, os dois são tração traseira, né?!
Dando continuidade aos vídeos do canal Korn Cars no Youtube, não deixem de acessar o review do Jaguar XKR-S. Já peço desculpas pela qualidade das imagens. Não havíamos planejado gravar!
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