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Odômetro de um BMW ///M com 111.111 milhas rodadas…boa sorte para vender um carros desses no Brasil. |
Quando queremos comprar ou vender um carro esportivo, o primeiro e principal motivo de desvalorização é a quilometragem rodada elevada.
De fato, do ponto de vista das lojas, carros com quilometragem mais alta (leia-se: condizente com um uso normal do carro) tendem a ser desvalorizados. Por outro lado, na ponta compradora, os interessados evitam ir atrás de veículos mais rodados.
A pergunta que eu gostaria de deixar no ar é a seguinte: em um cenário hipotético, peguemos dois veículos do mesmo modelo e ano de fabricação. O primeiro tem 30 mil km, mas com um manual “recheado”de carimbos de manutenção preventiva e revisões feitas nas datas exigidas, trocas de óleo em dia, pneus novos e sem detalhes. O segundo tem 6 mil km, mas um manual de revisões “pelado”, o carro nunca passou por uma concessionária ou assistência técnica que fosse para um mero alinhamento e no melhor cenário está com as trocas de óleo em dia.
QUAL O MELHOR CARRO?
Na opinião do geral, o segundo carro é valorizado e vendido como “o carro mais novo”… “impecável”, justificando, às vezes, até mesmo, um valor acima de mercado. Enquanto isso, o primeiro carro está fadado a encalhar nas lojas por meses até que apareça alguém interessado, isso quando lojas não chegam ao ponto de recusar pegar o veículo na troca ou em consignação.
Isso é triste e somente fomenta essa cultura, muitas vezes, podre do mercado de semi-novos. É, por falta de melhor palavra, preconceito.
Realidade seja dita, a pessoa tem um carro esporte pelo simples fato de querer usá-lo. Os proprietários de esportivos não usam seus carros para ir do ponto A ao B. Pelo contrário, são o tipo de gente que gosta de acordar cedo nos finais de semana para pegar uma boa estrada, botar o carro para andar para aliviar o stress da semana. Dirigir um carro esportivo é um fim em si mesmo.
Aí vem a segunda pergunta: alguém, em sã consciência, compra um veículo esportivo para que este seja um lindo enfeite? Obviamente que não. Esses carros são comprados para serem usados com vontade. Cada vez que você pega uma estrada, são 200, 300 km em um dia de passeio.
Faça a conta, você andaria menos do 600-700 km em média durante um mês com um carro esportivo, que não deixa de ser um “brinquedo” de gente grande? Durante o tempo livre, seu filho restringe o número de horas que ele joga o Playstation 3 dele? Usar um carro esportivo moderadamente corresponde a cerca de 6000 km em um ano de uso. Infelizmente, essa cultura de que o custo de manutenção do carro esportivo rodado é alto e que ninguém quer a “batata quente”, só tem feito proliferar um tipo de comportamento condenável.
Não são poucas as lojas que compram um carro esportivo com alta quilometragem por um preço baixo, mas com a manutenção e conservação nem sempre tão boas, e mexem no odômetro (às vezes até na própria central eletrônica), reduzindo a quilometragem. É uma ótima maneira de se ganhar dinheiro em cima do público leigo.
O sistema acaba se “retroalimentando”. Você acaba tendo carros de baixa quilometragem falsa que não são propriamente carros bons e acabam dando problemas para os seus proprietários. Estes, por sua vez, pensam: “poxa, se eu comprei um carro de baixa quilometragem dando tanto problema, imagine um com quilometragem mais alta?!” Poucos são aqueles que procuram constatar se houve adulteração na quilometragem do veículo. Ferraris, Lamborghinis, Porsches, AMGs, ///Ms…o que você quiser! Pode apostar que é possível reduzir quilometragem.
Por outro lado, convém ressalvar que o veículo com baixa quilometragem real (e não adulterada) pode ter uma conta de manutenção muito maior que um veículo com alta quilometragem. O carro esportivo tem peças que foram planejadas para uso sob condições mais intensas, o pouco uso é muitas vezes mais prejudicial do que o uso intenso – freios que perdem eficiência, carros com a gasolina velha no tanque, mangueiras ressecadas – tudo isso representa um custo altíssimo de manutenção.
Além disso, falta de uso não significa que o veículo não precise fazer manutenção preventiva, razão esta pela qual muitos fabricantes colocam um limite de tempo para revisões, caso a quilometragem estipulada não seja atingida. Concordo que muitas vezes as concessionárias oficiais de marcas “dão facadas” com orçamentos completamente desnecessários, beirando uma conduta de má-fé, e isso faz com que muitos proprietários corram das manutenções. Porém, isso não é desculpa!
Há uma série de oficinas especializadas em veículos esportivos importados que não agem dessa forma – na Cidade de São Paulo temos oficinas especializadas em Porsches, Ferraris, BMWs, Mercedes-Benz etc., que fazem um serviço tão bom quanto a concessionária da marca (até mesmo melhor, em alguns casos). Notem, nem sempre uma revisão significa um orçamento extenso e milhares de reais a menos. Em alguns casos, pode ser um serviço muito simples que, uma vez feito, alivia muitas dores de cabeça futuras.
As peças de um veículo esportivo não são peças de carros comuns de passeio. São feitas de componentes especialmente preparados para aguentar muito mais do que o carro comum. Como o próprio nome diz, o carro esportivo nasce com o propósito de ser verdadeiramente “pilotado”.
Obviamente que existem proprietários e proprietários, e alguns dirigem como cavalos, mas tem muita gente que sabe acelerar e cuidar do brinquedo. Será que o mercado está certo em torcer o nariz de imediato para um carro esportivo com quilometragem mais elevada? Será que esse é o carro que merece encalhar nas lojas?
Portanto, a conclusão desta postagem é bem simples. O que deve importar na compra do veículo é o estado de conservação, o que foi e o que falta ser feito. Deve-se procurar saber quem era o antigo dono, entender se a pessoa tinha carinho com o carro, como e onde foram feitas as manutenções etc. Acredite, quilometragem está longe de ser um medidor de qualidade de um veículo. Enquanto o comprador se pautar somente na baixa quilometragem para comprar um carro esportivo, o esquema de carros que passam no “túnel do tempo” e têm suas quilometragens reduzidas vai continuar e, assim, continuaremos a ver “gatos sendo vendidos como lebres”.
Parabens!! belo texto!!abs edu jr.
Muito legal o texto!Se o veículo tiver em bom estada não importa quanto ele já rodou.Pode pegar a F355 BTDF de SP como exemplo, pra mim ela está perfeita!Compraria fácil se o dono resolvesse vender (e com dinheiro né haha)
Uma grande verdade e basta refletir pra ver que os maiores culpados desse comportamento de mercado são os próprios consumidores desse tipo de veiculo. Todos nos temos exemplos de amigos que são assim, nao andam nos carros, nao utilizam seus brinquedos e na hora de trocar ou vender….